Hoje é Dia de Livro Especial de Fim de Ano

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Por Maria Luiza Busse, compartilhad da ABI

Livro por vir




Os chineses dizem que quando o velho se perpetua por muito tempo depois que o novo apareceu isso significa amálgama, não uma regressão. A coluna embarcou na tradição de indicar livros para presentear nas festas de fim de ano, mas optou por combinar o melhor do velho que não morreu com o mais alvissareiro do novo que está nascendo. Um porvir que promete realismo alegre e esperançoso repleto de livros, mesmo que seja um só, aquele, que abriga para cada leitor todo o sentimento que faz enxergar e seguir adiante. “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. É sempre bom lembrar Mario Quintana, autor dessa máxima, poeta queridinho e patrono deste espaço, que também deixou em quatro frases de uma única estrofe o verso com que desejamos um FELIZ 20233

‘Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!’

Mas vamos aos fatos, como se tivéssemos nos afastado deles.

Recomendar livro é sempre um desassossego. A propósito o Livro do Desassossego, do poeta português Fernando Pessoa, abre as sugestões. É um clássico como Por que ler os clássicos, do ítalo-cubano Italo Calvino, escritor de potentes e deliciosos romances e contos que define clássico como ‘aquilo que tende a relegar as atualidades à posição de barulho de fundo, mas ao mesmo tempo não pode prescindir desse barulho de fundo’. Nessa esteira estão as/os autores de diferentes áreas que pensam em sintonia com os acontecimentos e rumores do hoje e dos muitos séculos que seguem atravessando o aqui e agora. No risco, segue lista em aberto, em processo, desses escritores, porque livro é sempre um por vir: Machado de Assis, Lima Barreto, José Luiz Fiori, Marcio Pochmann, Bertolt Brecht, Primo Levy, Eduardo Galeano, Gabriel Garcia Márquez, José Saramago, Castro Alves, Conceição Evaristo, Cora Coralina, Adélia Prado, Paulo Nogueira Batista Júnior, Samuel Pinheiro Guimarães, Karl Marx e Friedrich Engels, Trotsky, Lenin, Tariq Ali, Mao Zedong, Lu Xun,  Maximo Gorki, Dai Sijie, Tolstoi, Turgueniev, Tchecov, Roland Barthes, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Carolina de Jesus, Fred Goes, Augusto dos Anjos, Alberto Morávia, Shakespeare, Dylan Thomas, Homero, Marguerite Duras, Umberto Eco, Julio Cortazar, Bioy Casares, Aluisio de Azevedo, Clarisse Lispector, Elisa Lucinda, Baudelaire, Mario de Andrade, Roberto Piva, Paulo Freire, Josué de Castro, Karl Polany, Nicos Poulantz , Thomas Mann, José Régio, Camus, Sartre, Simone de Beauvoir, Paulo Leminsky, Uderzo e Goscinny, James Joyce, Jean Genet, Edgar Alan Poe, Aldous Huxley, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Frantz Fanon, Lelia Gonzales, Luiz Gonzaga Belluzzo, Celso Furtado, Elias Jabbour, Inacio Rangel, Conceição Evaristo, Ivan Cavalcanti Proença, Teodor Adorno, Walter Benjamin, Wilhelm  Reich, Florestan Fernandes, Antonio Candido, Roberto Schwarz, Nelson Rodrigues, e tantos mais a serem acrescentados.

Em todo caso, aí vão as dicas da coluna:

Comunicação e Educação: Televisão e Criança, o Humor da Charge Política, de Jânio de Freitas, jornalista, decano do jornalismo exercido como trabalho intelectual, crítico, inteligente e comprometido com o esclarecimento dos fatos. Editora Moderna;

Novos Horizontes do Brasil na 4ª transformação estrutural, de Márcio Pochmann, economista, pesquisador e professor titular da Universidade Estadual de Campinas-Unicamp;

João Candido e os navegantes negros: a Revolta da Chibata e a segunda abolição, de Silvia Capanema, professora de Cultura Brasileira da Universidade de Paris 13-Norte e deputada metropolitana da periferia local eleita desde 2014. Editora Malê;

Um pé na cozinha: Um olhar sócio-histórico para o trabalho de cozinheiras negras no Brasil, de Taís de Sant’Anna Machado, socióloga que investiga os processos de profissionalização dessas mulheres na cozinha doméstica do pós-Abolição até a gastronomia contemporânea. Editora Fósforo;

Dicionário de História Militar do Brasil, 1822-2022, coordenado por um grupo de professores especialistas com concepção do professor titular aposentado de História moderna e contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF. Edição Edupe, Autografia e CNPq;

O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro, antropólogo, professor, político, pensador do Brasil. Editora Global

Também seguem as dicas das editoras Contexto e Expressão Popular, e da editora Unesp, parceira e colaboradora desde sempre desta coluna

Editora UNESP

Henrique VIII, de Georges Minois

Henrique VIII, autor de um tratado teológico, oponente mortífero, fundador de uma religião, amante das guerras e das festas, confiscador de bens eclesiásticos, é muito mais do que o rei com seis esposas. Em todos os campos, prevaleceu sua paixão pelo poder. Mas, para além do anedótico, há um mar de complexidades em torno dessa figura central para o século XVI europeu, no qual Georges Minois mergulha neste livro, convidando o leitor a acompanhá-lo.

Carta sobre a felicidade (a Meneceu), de Epicuro

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de se dedicar à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz.

Devaneios do caminhante solitário, de Jean-Jacques Rousseau

Os textos que constituem este livro transitam entre o registro da literatura e o do discurso filosófico. Ao longo de dez caminhadas, Rousseau medita sobre passagens seu percurso de vida. Estuda os sentimentos que vivenciou, sempre procurando, a cada episódio narrado, reconstituir em seu espírito a felicidade outrora experimentada, presente até mesmo em momentos difíceis. Nesse riquíssimo mapa de memórias, a trilha de seus devaneios entrelaça-se com temas que singularizam sua trajetória, como a solidão, o envelhecimento, a mentira, seu trabalho intelectual, sua relação com a natureza – com destaque para a paixão pela botânica –, além do polêmico tema do complô, abordado de forma dramática em outro escrito autobiográfico, “Rousseau juiz de Jean-Jacques: Diálogos”.

A linguagem sentimental das flores, de Alessandra El Far

Apoiada em uma variedade de fontes históricas – crônicas, romances, jornais, relatos de memória e manuais de comportamento – para elucidar o significado social do namoro no século XIX, a autora ilumina algumas práticas de cortejo e galanteria, bem como seus desafios e consequências, demonstrando que, em compasso com a troca de flores, havia também o namoro de janela, os bilhetes passados de mão a mão e, entre outros artifícios, as mensagens publicadas nas seções de anúncio de jornais. Assim, entrelaçando esse conjunto de estratégias, este livro esclarece aspectos importantes do universo amoroso da época e os sentimentos de homens e mulheres que agiam impulsionados por algum tipo de expectativa afetiva.

A velha Nova York,  de Edith Wharton

As quatro novelas aqui reunidas são ambientadas em Nova York, entre as décadas de 1840 e 1870. São elas: “Falso amanhecer”, a célebre “A solteirona”, “A faísca” e “Dia de Ano-Novo”. Esses textos, gestados no auge do processo criativo da autora, com seus enredos e personagens marcantes, abrem ao leitor uma janela para os códigos e costumes que permeavam a estrutura e o funcionamento da sociedade norte-americana no fim do século XIX.

Editora Expressão Popular

O Saci,  de Monteiro Lobato

Série de histórias em que o personagem Pedrinho interage não apenas com o Saci mas com diferentes personagens do folclore brasileiro, aprendendo as suas histórias e vivendo as aventuras acompanhado de um saci que ele conseguiu capturar com a ajuda da Emília e do Tio Barnabé.

De quanta terra o ser humano precisa, de Lev N. Tolstoi

Publicado pela primeira vez em 1886, o conto narra o conflito de Parrom, um camponês russo que possuía a quantidade de terra necessária para plantar e dar de comer à família, mas se vê atraído pela tentação de ser um grande proprietário de terras. Tudo começou com a visita da cunhada que morava na cidade e criticava o modo de vida rural da irmã caçula. Ao ouvir a esposa comentar com a irmã arrogante que não desprezava o trabalho agrícola e que se conseguissem mais terra “não temeriam nem o diabo”, Parrom foi instigado pelo valor da propriedade da terra como forma de enriquecimento com ajuda do próprio satanás: “Muito bem”, pensou o diabo, “vamos apostar e te darei muita terra. Mas será pela terra que vou te pegar”.

Lula e a política da astúcia: de metalúrgico a presidente do Brasil, de John D. French

A trajetória política de Lula é abordada a partir da análise da cidade de São Paulo de meados do século XX até́ 1980, especialmente na esfera sindical onde sua liderança foi forjada. Primeiro trabalho biográfico a investigar os aprendizados decisivos que possibilitaram Lula se tornar um torneiro mecânico habilidoso e um líder sindical de expressão e respeito nacional. O livro rejeita a narrativa individualista e traz para a cena principal os processos sociais, políticos e culturais por meio dos quais Luiz Inácio da Silva se tornou o Lula que está hoje entre os mais importantes e reconhecidos estadistas da história universal.

Eleanor Marx – uma vida, de Rachel Holmes

A biografia sobre a filha de Karl Marx apresenta a vibrante trajetória de uma militante que se envolveu de corpo e alma nas principais questões da esquerda na segunda metade do século XIX . Eleanor redigiu panfletos, traduziu assembleias, encontros, e autores como Flaubert e Ibsen. Deu aulas, apostou no trabalho de base, organizou arrecadações de fundos para partidos e sindicatos, fortaleceu campanhas fundamentais como a da libertação dos mártires de Chicago e participou de inúmeras de falas públicas sobre o mundo do trabalho e a perspectiva socialista.

Víctor: uma canção inacabada, de Joan Jara

Narrativa épica a partir do olhar autobiográfico de Joan, companheira do compositor chileno Víctor Jara, sobre a cultura popular cultivada no solo da revolução chilena durante o governo de Salvador Allende. Um livro de memórias sobre uma canção inacabada de uma revolução interrompida, um apelo à justiça social. A obra é resultado de uma promessa de Joan, depois do assassinato do companheiro pela ditadura Pinochet, quando estava a caminho do exílio: “Tinha que contar ao mundo exterior, em nome dos que não podiam fazê-lo, sobre os sofrimentos do povo. Faria tudo que estivesse ao meu alcance para que Víctor, através de sua música e suas gravações, continuasse trabalhando pela causa que abraçara como sendo a sua própria. Seus assassinos haviam subestimado o poder da canção”.

Editora Contexto

É assim que aprendemos: por que o cérebro funciona melhor do que qualquer máquina (ainda), de Stanislas Dehaene

Um encontro com Felipe, de apenas 7 anos, obrigou o premiado neurocientista francês Stanislas Dehaene a rever radicalmente suas ideias sobre aprendizado. Mesmo preso a um leito de hospital e completamente cego em consequência de uma bala perdida, o menino brasileiro manteve intacta sua sede de aprender. Mas, final, como o cérebro humano consegue adaptar-se às circunstâncias reprogramando-se e, assim, continuar aprendendo? Do questionamento surgiu este poderoso livro.

História da saúde humana: vamos viver cada vez mais?,  de Jean-David Zeitoun

Durante dezenas de milhares de anos os seres humanos viveram, em média, apenas 30 anos. O grande aumento de nossa expectativa de vida começou somente lá por 1750, no Ocidente. Água potável, saneamento básico, melhora na alimentação tiveram um impacto notável. Depois, vieram as vacinas. Em dois séculos nossa longevidade duplicou. De 1950 para cá, avanços na área médica e farmacêutica propiciaram um ganho médio de mais 25 anos de vida. Há quem ache que viveremos cada vez mais e melhor. Será?

Novos combates pela História: desafios – ensino,  Organização Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky

A História pode e precisa ser defendida. Especialmente agora, quando as mentiras ganham uma dimensão maior, com fake news propagadas por atacado e de forma organizada. Querem mudar a História por meio do negacionismo com a recusa de fatos indiscutíveis e atentados permanentes contra os cidadãos, a ciência, a natureza e a educação. Os historiadores e professores de História são solicitados a dar respostas. E, o melhor de tudo, é que esses mestres as têm. Livro essencial para historiadores, professores e demais amantes da História. Organização de Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky

História da felicidade, de Peter N. Stearns

Reflexão sobre as raízes e a história da felicidade. Ser feliz é uma questão de Espaço e Tempo. Assim entendido, a visão histórica clareia a compreensão dessa emoção humana que atravessa a humanidade e segue marcando presença na contemporaneidade. “Inserir a pergunta ‘você é feliz?’ no tempo e no espaço pode nos dar um controle maior sobre a resposta e, talvez, aumentar nossa chance de uma felicidade fora das redes sociais.”, observa Leandro Karnal.

Nova História das mulheres no Brasil, Organização Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro

O que aconteceu com as mulheres no século XX e o que está acontecendo no XXI? Essas são questões que autoras– pesquisadoras das áreas de História, Ciências Sociais, Educação e Direito, de todo o Brasil, respondem nesta produção editorial. Livro de especialistas destinado ao público em geral, homens e mulheres, que acreditam que compreender as relações sociais por meio da História contribui para o melhor entendimento entre as pessoas. Organização de Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro

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