Hoje é o “Dia do Jornalista”. O que temos a comemorar ou a lamentar?

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista – 

Jamais gostei dessas efemérides, mas, como alguns amigos teimam em me cumprimentar pelo “Dia do Jornalista”, isso me levou a uma reflexão. O que temos a comemorar?




Comemoro o surgimento e a reação de jornalistas em redes sociais, que teimam em fazer jornalismo. Jornalistas que apuram (de verdade), que investigam e que raciocinam antes de publicar. Jornalistas que não vão pelos boatos, pela maledicência.

Celebro – hoje e sempre – os jornalistas que se pautam pelo apreço ao contraponto e que não compactuam com o corporativismo barato e com o mercantilismo obsceno do toma-lá-dá-cá. Jornalistas que põem o dedo na ferida, mas que também são obsessivos na busca de apresentar sugestões de cura. Jornalistas que não aceitam a manchete encomendada, mentirosa, deturpada; que desconfiam do “off” plantado, falsificado, e que se recusam a ser instrumentos de divulgação de vazamentos seletivos.

Comemoro, sim, o fato de ainda ver jornalistas que, mesmo trabalhando para veículos de comunicação obviamente golpistas, mantêm suas opiniões contrárias ao conluio e se opõem ao maniqueísmo do rolo compressor. Acompanho e festejo o trabalho de jornalistas que não compactuam com lamentáveis figuras como Eduardo Cunha, Gilmar Mendes e Michel Temer e demais perpetradores de golpes cotidianos na moral, no civismo e na democracia brasileiros.

A cada jornal diário que chega ás bancas, a cada edição do “Jornal Nacional”, a cada noticioso radiofônico, a cada revista semanal, eu, frequentemente, lamento a depredação do nosso jornalismo. Aos consumidores de notícias viciadas, que acreditam em tudo o que leem, veem e ouvem nesses veículos que há tempos deixaram de fazer aquilo para o foram criados eu digo: isso não é jornalismo. Digo isto no táxi, na padaria, na praça, no supermercado: “Por favor, não acreditem no que muitos de minha profissão falam e escrevem”. Digo isso e lamento por me sentir obrigado a dizê-lo. Lamento como jornalista e como cidadão brasileiro.

Sim, é doloroso ter que escrever isso. É como se um médico viesse a público para dizer que muitos dos seus colegas fazem cirurgias mal-feitas, que podem levar à morte, de propósito. É como se engenheiro declarasse que colegas seus projetam viadutos e prédios com o pior dos materiais, sabendo que o mesmo pode cair a qualquer momento. Diante dos “Parabéns pelo seu dia” que tenho ouvido hoje, fico pensando: será que a maioria dos profissionais da minha classe merece ser parabenizada?

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