Por Tatiana Farah, compartilhado de BuzzFeed Brasil –
O homem teve os dentes arrebentados por um soco quando já estava dominado. Durante a surra, os 3 agressores gritaram ofensas antissemitas.
Um homem judeu de 57 anos foi espancado por três homens que o atacaram ao notarem que ele estava usando quipá, adereço religioso que cobre parte da cabeça. O homem teve os dentes arrebentados por um soco quando já estava dominado em plena rua na cidade de Jaguariúna (125 km de São Paulo).
Durante a surra, os agressores gritaram ofensas antissemitas contra o homem. Quando a vítima agonizava no chão, os criminosos tomaram-lhe o quipá e rasgaram-no com um canivete.
O crime aconteceu no último dia 10, está sendo investigado pela Polícia Civil, mas os autores ainda não foram identificados. Os suspeitos são dois homens brancos e um pardo, com idades entre 20 e 25 anos.
O BuzzFeed News conversou com a vítima, cuja identidade será preservada. O homem, um representante comercial, caminhava sozinho em direção à rodoviária de Jaguariúna, quando foi chamado de “judeuzinho verme”, cercado e atacado.
“Foi tudo muito rápido. Quando eu vi, um deles já estava bloqueando a minha passagem. Ele me agarrou pelo pescoço. Um me deu um chute no testículo. Quando eu me abaixei de dor, me deu um soco de baixo para cima no rosto, quebrando minha prótese dentária e meus dentes, e machucando minha boca”, contou ele.
“Eles falaram que Hitler devia ter matado mais judeus. Meu quipá caiu no chão. Um deles pegou o quipá e o outro o cortou com um canivete. Ele disse que a próxima vez que me encontrassem seria pior. Eu fiquei no chão, sangrando.”
Nada foi roubado da vítima.
O representante de vendas, que está desempregado e conta com o apoio da comunidade judaica para tratar dos dentes, disse que ficou muito assustado e que estranhou esse tipo de violência em Jaguariúna, onde não havia registro de ação de grupos de ódio de caráter antissemita.
O homem contou que, desde que se converteu ao Judaísmo há 30 anos, nunca tinha sido vítima de intolerância mesmo em outros países por onde passou, anos atrás, como Holanda e Alemanha. Como em Jaguariúna não há sinagoga, ele cumpre sua rotina religiosa na sinagoga de Campinas, a 30 km de onde mora.
Traumatizado, ele passou a fazer o trajeto até a sinagoga, usando um boné para esconder o quipá, nos primeiros dias após a agressão.
“Naquele dia, eu fiquei agachado, sangrando. Eu senti muita impotência. Sou meio estourado, então eu engoli em seco quando me xingaram. Fiquei com o orgulho ferido, mas, depois, quando pensei no que mais poderiam ter feito, era só agradecimento.”
O caso está sendo investigado pela polícia local como lesão corporal e injúria racial. Ninguém foi identificado e a vítima disse acreditar que os agressores são de fora da cidade. Nesta sexta, ele foi à delegacia para ver fotos de suspeitos, mas não reconheceu ninguém.
“Eu não creio que vão pegar eles, mas estão tentando. Acho que isso aconteceu porque a Humanidade está ficando doente de novo. Essas pessoas são doentes de caráter e da cabeça.”
A Federação Israelita do Estado de São Paulo e a entidade judaica Sinagoga Sem Fronteiras acompanham o caso.