Horário das Barcas: Ilha de Paquetá se mobiliza e pede apoio

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Por Zeca Ferreira, cineasta

#respeitaPaquetá é a hashtag que moradores e amigos da ilha de Paquetá tem circulado para chamar a atenção para um problema grave que vivemos aqui e que terá em breve dias decisivos. Tentando ser bem sintético pra comunicar o que acontece aos amigos do lado de lá.

Só há um meio de transporte oficial para se chegar e sair de Paquetá: as barcas administradas pelo conglomerado CCR Barcas, a partir de contrato estabelecido com o governo do Estado. O contrato prevê um número de barcas diárias capaz de garantir a ida e vida de turistas ao continente, bem como dos ilhéus, muitos deles com trabalho e/ou estudo na cidade.




A quantidade de barcas e a qualidade do serviço sempre foram uma questão delicada para nós, e a comunicação entre a empresa e os moradores é bastante restrita, pra não dizer inexistente.

No último dia 23 de dezembro a CCR Barcas informou, via mensagens afixadas nas estações, que dali a uma semana implementaria, através de medida judicial, uma nova grade de horários, com mudanças radicais nos horários. É difícil explicar para quem não conhece esse dia a dia, mas para ficar em dois exemplos bem gerais, basta dizer que em todos os horários de rush (manhã e fim de tarde), as barcas passariam a fazer um itinerário novo, incorporando a linha Cocotá (Ilha do Governador) – Rio, que passaria a ser Paquetá-Cocotá-Praça XV. Dessa forma, estudantes que atualmente descem na barca das 5:30 da manhã, passariam a ter de descer às 5h, e a viagem passaria de 50 minutos para 1h40min, no mínimo, chegando, ainda assim, atrasados. O mesmo acontecendo nos finais de tarde. Nos fins de semana, a grade previa redução dos horários pela metade (isso mesmo que vc leu).

Então, se alguém viesse passar o domingo aqui e quisesse voltar para casa à tarde, teria como opção os horários de 14:30, depois 18:30, depois apenas 23:30. Deu pra entender o tamanho do massacre?

Acontece que temos hoje na ilha de Paquetá uma comunidade com organização política bastante acima da média, contando com associação de moradores forte, assim como um Conselho de Segurança eleito e atuante e uma Região Administrativa aclamada representativa dos moradores.

Graças a essa organização, a pressão popular tem sido intensa e as assembléias tratando do assunto tem reunido um público médio de 500 pessoas, além de forte repercussão da imprensa. Somente essa mobilização tem sido capaz de segurar esse projeto arbitrário que significará a destruição de um bairro como ele é hoje, forçando a saída de muitos moradores, além da inviabilização de seu potencial turístico.

Graças a essa mobilização, e ao valoroso auxílio da Defensoria Pública, esse descalabro já foi adiado em duas vezes.

A questão mudança de grade terá um capítulo decisivo no próximo dia 15, em audiência judicial. O juíz pediu que os moradores apresentassem, via defensoria pública, uma contra-proposta à grade que a CCR Barcas tentou, na calada da noite, impor. Os moradores, em assembleia pública, decidiram que a grade que hoje vigora, já bastante restritiva, já significa um patamar mínimo de mobilidade, além de questionar essa forma de pressão para responder a uma negociação que jamais foi oficialmente aberta, com uma empresa que desrespeita continuamente os seus moradores.

Uma discussão para um próximo momento seria uma ampliação de pelo menos mais um ou dois horários diários, ajudando a cobrir buracos atuais que podem chegar a três horas entre uma barca e outra.

Nos últimos dias, uma grande mobilização com os moradores, tem feito pesquisa nos principais horários de barca, sistematizando informações sobre nossas necessidades e sobre as dificuldades que já enfrentamos com o serviço hoje oferecido, e comprovando a inviabilização de todo um bairro caso vigore a nova proposta.

Em um momento tão difícil para a democracia no país, a luta dessa pequena ilha para garantir sua dignidade diante de grandes interesses e pouca sensibilidade tem sido exemplar. Ainda assim, somos poucos, somos pequenos, e precisamos de ajuda.

Circule a hashtag #respeitaPaquetá, apóie essa luta popular por dignidade, pelo direito básico de ir e vir e por um bairro que deveria ser um orgulho dessa cidade que tenta escondê-lo.

 

Fotos: Washington Luiz de Araújo

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