Bashir Hajji, de 75 anos, não conseguiu fugir para o sul a pé porque era deficiente. Sua imagem foi usada pela propaganda de Tel Aviv com um “soldado cordial”, mas ele acabou executado
POR HENRIQUE RODRIGUES, compartilhado da Revista Fórum
Bashir Hajji, um homem de 75 anos que vivia em Gaza, apareceu para o mundo dias atrás após os perfis oficiais do governo de Israel mostrá-lo andando ao lado de um soldado do Estado judeu, sobre os escombros de edifícios demolidos pelos bombardeios realizados no pequeno território palestino. A “leitura” da foto, bastante simples, mostra um idoso vulnerável sendo tratado com humanidade e cordialidade por um militar inimigo. Só que o fim de Bashir foi outro.
Momentos após o clique, ainda usando a mesma roupa, o ancião com limitações de locomoção foi achado morto pela família com dois tiros tipicamente frutos de execução, nas costas e na nuca. Ele vestia a mesma roupa em que aparece na imagem disponibilizada pelas contas israelenses. A denúncia ganhou repercussão nas redes após ser publicada pelo jornalista, escritor e ativista civil palestino Muhammad Shehada, que atua como cronista para a Al Jazeera e o Middle East Eye, além de também escrever para o jornal israelense de língua hebraica Haartez, o mais importante do Estado judeu.
De acordo com a versão apresentada por Shehada, a neta do idoso afirmou que o avô “morreu cansado, com frio, com sede e com fome”. A jovem teria relatado ao jornalista que os soldados das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) teriam chegado atirando nos moradores da localidade onde sua família vivia. A maior parte conseguiu fugir, mas Bashir ficou por lá, já que tinha deficiência e usava uma bengala. A foto, presume a neta, teria sido tirada momentos depois dessa fuga alucinada.
Ela contou que ainda chegou a ligar para o celular do idoso e que ele atendeu muito amedrontado, dizendo estar sozinho. Ela o orientou a se abrigar em algum dos prédios destruídos, e então passou a tentar ajuda da Crescente Vermelha (a versão islâmica da Cruz Vermelha) para resgatar o avô, embora os soldados judeus não tenham permitido o ingresso de ninguém no local. Horas depois a família o encontrou com tiros nas costas e na cabeça, caído em meio aos escombros de uma edificação em ruínas.