Compartilhado de BBC News –
A notícia de que o presidente Jair Bolsonaro contraiu o novo coronavírus teve ampla repercussão nos principais veículos de comunicação do mundo, que destacaram o histórico de declarações negacionistas do líder brasileiro.
De máscara, Bolsonaro fez o anúncio sobre o resultado positivo nesta terça-feira (7) após realizar um novo exame para detectar o vírus, o quarto desde o início da pandemia, no dia anterior. Ele disse que realizou o teste após sentir sintomas leves: febre baixa e tosse.
Em seguida, durante entrevista coletiva a jornalistas, Bolsonaro tirou a máscara.
Em nota, a assessoria do Palácio do Planalto disse que o presidente “mantém bom estado de saúde”.
Ao noticiar o diagnóstico positivo de Bolsonaro, o jornal americano The New York Times, um dos mais importantes do mundo, destacou que o presidente brasileiro “é cético quanto às precauções antivírus”.
“O presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, que descartou repetidamente o perigo representado pelo coronavírus, divulgou que contraiu o coronavírus, um episódio que turbinou o debate sobre a gestão indiferente de uma pandemia que matou mais de 65 mil brasileiros”, informou a versão eletrônica do NYT.
O diário acrescentou que Bolsonaro “foi criticado por lidar com a pandemia, mesmo quando o número de casos e o número de mortos no Brasil aumentaram nos últimos meses. Os 1,6 milhão de casos diagnosticados no Brasil e mais de 65 mil mortes o tornam o segundo país mais atingido, atrás apenas dos Estados Unidos”.
Na mesma linha, o também americano The Washington Postreproduziu um texto da agência de notícias AP em que Bolsonaro é descrito como “um populista de 65 anos conhecido por se misturar na multidão sem cobrir o rosto”.
“Apesar de vários assessores de Bolsonaro terem tido diagnósticos positivos nos últimos meses, o presidente muitas vezes evitou precauções como usar máscara e praticar distanciamento social. Mais recentemente, ele participou de um almoço realizado no sábado pelo embaixador americano no Brasil para comemorar o feriado de quatro de julho”, disse a reportagem.
Já o britânico The Guardiandestacou que Bolsonaro “banalizou repetidamente a pandemia e desrespeitou o distanciamento social, mesmo quando o Brasil se tornou o segundo país mais atingido, depois dos Estados Unidos”.
O diário lembrou falas polêmicas de Bolsonaro como quando ele afirmou que seu “histórico de atleta” lhe permitiria recuperar-se rapidamente caso contraísse a doença.
“Em março, quando a covid-19 fez suas primeiras vítimas no Brasil, o populista de extrema direita usou um pronunciamento para o país para se gabar de que, se infectado, rapidamente se livraria da doença graças ao seu “histórico de atleta””, disse o Guardian, em reportagem veiculada em seu site.
“Desde então, Bolsonaro continuou a participar de eventos sociais e comícios políticos, muitas vezes usando máscaras incorretamente ou sem usá-las”, acrescentou.
O texto do Guardian também assinalou que Bolsonaro “continuou a minar o que ele chamou de tentativas exageradas e indutoras de pânico por parte de governadores e prefeitos brasileiros de retardar a propagação do vírus por meio de paralisações e distanciamento social”.
No também britânico Financial Times, Bolsonaro foi retratado como “líder de extrema-direita” e “um dos poucos no mundo a contrair a doença, incluindo Boris Johnson no Reino Unido”.
Segundo o diário, “Bolsonaro há muito nega a seriedade da pandemia e participa de numerosos comícios e eventos com frequência sem precauções, como usar uma máscara”.
O Financial Times destacou ainda que a saúde do presidente brasileiro “tem sido uma fonte constante de preocupação depois que ele foi esfaqueado enquanto fazia campanha pela Presidência em 2018”, lembrando que ele passou por cirurgias depois do episódio.
O francêsLe Mondetambém ressaltou que Bolsonaro “minimizou a doença e participou de vários eventos públicos sem usar máscara, enquanto critica as medidas de isolamento implementadas em vários Estados”.
Já o também francêsLe Figaro lembrou que o presidente brasileiro desobrigou o “o uso de máscaras em locais públicos contra a disseminação do coronavírus”.
“Duas semanas antes, ele havia sido condenado pela Justiça brasileira a usar uma máscara em Brasília, antes de recorrer e obter a anulação da sentença”, acrescentou o jornal, em reportagem em seu site.
“Há meses desafiando seu destino, agora Jair Bolsonaro foi atingido: o presidente brasileiro está infectado com o coronavírus” foi como o alemão Süddeutsche Zeitung, um dos mais importantes do país, aludiu ao diagnóstico positivo do presidente brasileiro.
“O governo brasileiro minimizou a pandemia desde o início. O próprio Bolsonaro se referiu repetidamente ao coronavírus como “gripe leve” e resistiu a medidas de proteção. Repetidamente, ele se mostrava em público sem máscara, deixava seus apoiadores abraçá-lo, provocava multidões e tirava selfies com seguidores”, acrescentou o diário.
Para o italiano Corriere della Sera, Bolsonaro “sempre manteve uma atitude desafiadora em relação à epidemia. Ele ignorou os conselhos repetidos para usar uma máscara em público e atacou as regras de distanciamento social promovidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”.
Já o argentino Clarín, que deu ampla cobertura à notícia sobre o diagnóstico positivo de Bolsonaro, adotou uma abordagem mais incisiva, chamando o presidente brasileiro de “um dos piores líderes do mundo no combate à pandemia”.
“Desde que o novo coronavírus chegou ao Brasil e deixou claro seu poder mortal sobre a vida humana, a economia, os empregos e a organização da sociedade tal como se conhecia antes da pandemia, as respostas do presidente Jair Bolsonaro à crise causada pelo vírus mortal variaram entre minimizar o problema monumental à sabotagem total das medidas de contenção contra os estragos causados pela doença surgida na China”, afirmou o jornal, em artigo em artigo assinado pelo correspondente em Brasília.
O jornal lembrou as falas polêmicas de Bolsonaro no curso da pandemia e destacou que o atual ministro da Saúde não tem formação na área.
“Ao comentar com sorriso o exame detectado pelo contágio, Bolsonaro, além da promoção enfática da cloroquina e da necessidade de flexibilizar o distanciamento social, mais uma vez defendeu a permanência na sede do Ministério da Saúde de um funcionário sem formação médica aludindo a outros casos da história recente, como o do atual senador José Serra”, disse.
“Novamente, Jair Bolsonaro sendo Jair Bolsonaro, em sua forma mais pura. Mesmo infectado”, acrescentou o diário argentino.
Já a emissora Al Jazeera, influente no mundo árabe, destacou que Bolsonaro “testou positivo para a covid-19, depois de meses minimizando a gravidade do vírus”.
“Bolsonaro confirmou os resultados dos testes enquanto usava uma máscara e falava com repórteres na capital Brasília, e disse que já está tomando hidroxicloroquina – um medicamento antimalárico não comprovado para tratar efetivamente a covid-19”, informou a emissora em seu site.