Compartilhado da RBA –
Para médico da USP, pandemia já produziu ‘grande e inaceitável impacto na vida e na saúde das pessoas’
São Paulo – A tendência para os próximos dias é que a pandemia do novo coronavírus cresça ainda mais no Brasil. Nesta terça-feira (12), o Ministério da Saúde divulgou um novo recorde de mortes em decorrência da covid-19 no último período de 24 horas. Foram 881 vidas perdidas. Ao todo, desde a chegada do vírus no país, são 12.400 óbitos e, oficialmente, quase 178 mil casos confirmados da doença em todo o país.
A pandemia evolui com “muita preocupação, mas sem surpresa”, como pondera o médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Evaldo Stanislau Affonso de Araújo. Em entrevista a Marilu Cabañas e Glauco Faria no Jornal Brasil Atual, o infectologista explica que, por um lado, o distanciamento social vem caindo em algumas regiões do país, e que “algumas autoridades continuam encarando esse problema como menor”. Enquanto isso, estudos indicam que ainda há “terreno para a doença crescer e as condições são dramáticas”.
Nesse cenário, Stanislau chama de “ilusão” a ideia de que é preciso deixar o vírus da covid-19 se disseminar para que supostamente as pessoas possam criar imunidade, a proposta batizada de “imunidade de rebanho”. “Para a gente ter esse efeito protetivo de imunidade de rebanho, a gente teria que ter de 60% a 70% da população disposta. Só que para chegar nesse percentual, o custo em vidas e em saúde é inaceitável do ponto de vista ético”, contesta.
“Esse não é um raciocínio normal. É muito mais próximo ao de um genocida, de uma pessoa desconectada da realidade, do que de um pensamento científico minimamente razoável. Porque está aí um pequeno percentual da população exposta – pelo que estudos demonstram em base populacional – e já há esse grande e inaceitável impacto na nossa saúde e na vida das pessoas”, fala, em referência às mais de 12 mil mortes.
A ideia de “imunidade em rebanho” também foi rejeitada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em nota, nesta semana, o órgão chamou de “perigoso” o princípio pelo risco de elevar o número de casos graves da doença, sem qualquer controle.