Por Heloisa Adário, Facebook
Indignação. Esse é o sentimento que me assola desde quando acordo até a hora de dormir, todos os dias, desde 2016, diante do espetáculo ignominioso e infame proporcionado pela canalha política do Congresso, durante a votação do impeachment da Dilma.
Indignação diante da canalha tucana, vil e hipócrita, comandada, fundamentalmente, por FHC, Aécio Neves e José Serra, que preparou, junto com a Globo, o capital financeiro e o agronegócio, o explosivo que iria implodir o país, e o passou para que outros acendessem, diga-se Temer, PMDB e asseclas.
Indignação pelo conluio do poder Judiciário com o golpe, com a perseguição implacável a Lula, mantendo-o preso sem provas, para impedi-lo de disputar a Presidência da República, numa afronta descarada à Constituição Federal.
Indignação pela destruição do país que essa canalha vem perpetrando desde então, vendendo nossas riquezas, privatizando equipamentos públicos, acabando com os direitos trabalhistas, extinguindo políticas públicas fundamentais para o povo brasileiro, de saúde, educação e políticas de distribuição de renda como o Minha Casa Minha Vida.
Indignação pelo aumento do desemprego e da extrema pobreza, do desamparo da população mais pobre do país, aquela que ninguém quer ver, que todo mundo finge que não existe, os “invisíveis”, a “ralé”, como a chama Jessé Souza.
Esse sentimento de indignação, que dá uma dor no peito e no estômago que a gente não define, que incomoda tanto a ponto de parecer que vai explodir e sair de dentro da gente algo indefinível, mas, que sabemos, monstruoso, me levou até o local da explosão do prédio no largo do Paissandu.
Eu queria ver de perto, ver se poderia ajudar de alguma maneira, e assim, botar o “monstro” de dentro de mim pra fora, aliviar o peito. Qual o quê…
Foi duro. Ali, homens, mulheres e crianças, sentadas e deitadas em colchões, sacos plásticos, espalhadas nas calçadas em frente à Igreja, recebem quentinhas e doações que chegam e são distribuídas por pessoas da comunidade.
Mas o que elas aguardam mesmo, ali, na rua, é uma solução definitiva das autoridades públicas, um lugar pra ficar, um espaço pra morar. Não querem ficar no pátio da Igreja, ou numa quadra qualquer, ou num albergue cedido pela Prefeitura. Querem um lugar pra morar. Apenas isso.
No final, além da vergonha que senti, o “monstro” da indignação só cresceu dentro de mim. Os litros de leite que levei não vão ajudar em nada, e as fotos que tirei, resolvi não publicá-las por pudor.
Eles não precisam só de solidariedade, mas, fundamentalmente, de fortalecimento enquanto movimento social e político. Além da atuação do MTST e outros movimentos sociais, é preciso que os partidos políticos de esquerda adotem em seu programa e lutem mais enfaticamente para resolver a questão de moradia para a população carente.
É o que falta aqui: uma luta política.
Acho que só assim o “monstro” da indignação poderá ser vomitado.