Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
A indignação seletiva tomou conta do país. Como bem lembrou o amigo, bancário aposentado, Juares Vermelho, “têm pessoas indignadas com a absolvição do Vaccari, acusado sem provas, mas não estão indignadas com os delatores que foram presos com provas e hoje estão livres, leves e soltos”. Mas esta indignação seletiva não vem só daqueles amarelinhos que bateram panelas, exigindo a saída de Dilma Rousseff, mesmo sabendo e não reconhecendo que estavam do lado de um golpe jurídico-parlamentar-midiático. Grande parte da direita que encabeçou o golpe, hoje, mostrando-se indignada, pede a renúncia de Temer, mas quer manter o Brasil sob um comando enviesado, fruto de uma eleição indireta.
Recentemente, FHC publicou um artigo pedindo a Temer que renuncie. Mostrando indignado com o alto desemprego, com as crises política e econômica, FHC, que parece mais comentarista de futebol, pois nunca se mostra derrotado num jogo, comenta que as reformas trabalhistas e previdenciária e a saída de Temer darão tranquilidade ao povo. A não ser a última proposta, as outras só acenam para o mercado financeiro, que quer de todas as maneiras que, na chamada reforma trabalhista, a balança patrão/empregado penda totalmente para o primeiro, o empregador. Querem ainda destruir a Previdência, para que as instituições privadas de planos previdenciários se locupletem cada vez mais. E dane-se quem não puder pagar.
Mostram-se indignados, mas de forma hipócrita, pois a situação em que vivemos é fruto do que fizeram com a democracia do país no primeiro semestre de 2016.
Indignam-se quando um tribunal absolve quem foi preso sem provas, mas ficam de bico calado sobre Aécio Neves, por exemplo, pego com a boca na botija, com propina de cédulas marcadas e com chips. Não se indignam com a soltura de parentes de Aécio, mas berram quando um João Vaccari é absolvido, mesmo com o medieval juiz Moro o mantendo nas masmorras.
Frase atribuída a Einstein: “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”. Impulsionadas por um ódio explicável pelo preconceito, muitos dos brasileiros deixaram a lucidez de lado, transformando-se em integrantes de uma torcida uniformizada de futebol, cega pelo fanatismo. Fica assim explicado o bater ou não bater de panelas, o ir ou não ir à Paulista. Explica-se a indignação seletiva.