Ingratidão, este monstro das almas pequenas

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Nos dois governos Lula e até 2013, no primeiro governo Dilma, a classe média teve um aumento da qualidade de vida e poder de consumo como nunca antes. Para além dos pobres que eles tiraram do mapa da fome, do fim da mortalidade infantil, da ampliação do ingresso de jovens negros, periféricos na universidade, tivemos, sim, uma melhoria em nossas vidas.

Por Palas Athena, compartilhado de Construir Resistência




Vínhamos dos traumas da ditadura; depois quase duas décadas de carestia, inflação galopante, corrosão salarial, privataria dos anos sarney e fhc (quem viveu sabe). Aí, chegou a era Lula e transformou este país no campo social e econômico, na nossa autoestima, ainda que isso não viesse acompanhado de consciência de classe dos trabalhadores, dos pobres e da classe média, exceção talvez ao Nordeste, que viveu uma verdadeira revolução desenvolvimentista.
Me lembro de que eu, com meu salário, sem fazer empréstimo nem nada, viajava para a praia quase todo feriado. O real valorizado, o dólar em baixa, inflação controlada, emprego em alta, consumo, custo de vida ok, dava para planejar e usufruir da vida.
Teve ano de ir duas vezes ao exterior, algumas sozinha. Cheguei a viajar para Portugal, na cidade de Covilhã, no norte do país, com a desculpa de participar de simpósio internacional (como ouvinte, por minha conta). O simpósio foi na universidade de Beira Interior, a primeira que fez convênio com o MEC para que a nota do Enem valesse para o ingresso lá.
Os estudantes brasileiros, nessa época, eram muito bem-vindos em Portugal e nos países vizinhos, como Argentina, porque salvavam as universidades da escassez de estudantes (os portugueses preferiam estudar na Europa) e de uma economia muito ruim nesses locais.
Para terem uma ideia, fui daqui para a cidade de Porto, fiquei lá uns três dias; viajei de ônibus, como uma local, para Covilhã; fiquei lá três dias; voltei para Porto, fiquei dois dias; depois, fui para Lisboa, onde fiquei mais dois dias. Em pleno mês de outubro. Não eram férias nem nada.
Era minha segunda viagem a Portugal, a primeira para essa região. E em Porto, fiquei no hotel em que se hospedou a equipe de futebol de Malta, que disputava a Eurocopa e jogaria contra a seleção de Portugal. Superbem localizado. Fiz mil e um passeios.
E eu era funcionária CLT, normalzona, sem parentes importante e vinda do interior.
Vivi a fase dos aeroportos parecendo rodoviária, que os faria limers e a zona sul do Rio de Janeiro odiavam. danuza leão, na fossa de s.paulo, era porta-voz dessa burguesia que odiava pobre em aeroporto e comprando perfume importado, antes restrito às patroas.
Lá fora a gente era tratado com todo respeito e admiração pela revolução social que Lula tinha feito e porque nossa diplomacia tinha elevado o país a “player global”, a ponto do carniceiro obama dizer que “Lula era o cara”. Éramos invejados até por nossos hermanos argentinos. Foi uma era de ouro da América Latina também, com governos mais progressistas.
Não conto isso para me gabar, sou classe média baixa. Mas para afirmar que os governos Lula e o primeiro governo Dilma foram ótimos, de bonança, até a sabotagem dos cirandeiros não são só 0,20, cirandeiros esses que hoje estão nessas greves de servidor público e em partidos que se dizem de esquerda, mas só sabotam.
Tudo isso para dizer que, hoje, lendo sobre as medidas do CNJ contra os lavajateiros da orcrim curitibana, me veio à mente o calvário que Lula (principalmente) e Dilma passaram depois de entregarem um país menos desigual, mais feliz.
Lembro o que a lava jato fez a Lula e a Dilma, vendo, por exemplo, os vídeos da juíza copia e cola, gabriela hardt, biscateira corrupta tentando humilhar um Lula, já de cabelos brancos, naquele depoimento em que ela, do alto de sua indigente arrogância, disse a ele: “Se começar nesse tom comigo, vamos ter problemas…”. Ela tentou calar o presidente da maneira mais abjeta.
Vem-me à mente tudo que Lula passou, a perseguição desde que foi presidente; a humilhação das farsas do mensalão e da lava jato; o silenciamento e a prisão; a perseguição à família dele que vivia escondida para não ser atacada, mesmo assim conseguiram matar a discreta d. Marisa por pressão e exposição a ataques jurídico-midiáticos.
Os filhos de Lula, quando ele foi preso, passaram necessidade porque ninguém queria empregá-los e quem o fizesse era achincalhado na mídia. Foi sofrimento demais para esse homem.
Depois de superar esse calvário, a suprema ingratidão de parte da população e do campo progressista, ele ainda aceita abrir mão de curtir sua velhice, seu novo casamento, sua família e, aos 76 anos, e vai viver a maratona de uma corrida eleitoral homicida, pondo sua vida e de sua família em risco (Lula teve de fazer campanha usando colete à prova de bala).
Um homem da estatura de Lula ter de debater com um sujeito farsante, do esgoto, como o tal padre kelmon, gente? Se submeter ao bafo do Hades do genocida em debate e, depois, ao bafo do mesmo Hades em negociações com arthur lira no Congresso? Lula poderia nos dar uma bela banana e ainda estaria pouco pelo tanto que ele sofreu de perseguição da plutocracia nacional e de ingratidão e traição de parcela do campo progressista.
Na boa, o campo progressista que agora volta a se insurgir contra Lula, por antipetismo e antilulismo doentios, tinha de ser obrigado a passar por todo o calvário do presidente para ver se aprende. Mas acho que nem assim. Só nascendo de novo.

Palas Athena é pseudônimo. Foi mantida sua grafia original, que coloca os nomes próprios em letra minúscula. Nem o editor do Construir Resistência conhece a verdadeira identidade da escriba. Seus textos são obtidos diretamente do Facebook.

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