Por Pedro Montenegro, compartilhado de Projeto Colabora –
Loja online ‘Fashion Masks’ tem ajudado a manter a renda de profissionais autônomas e até de fábricas de roupas
Quando a prefeitura da cidade de Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio, recomendou à população usar máscaras para se proteger do coronavírus sempre que precisasse sair de casa, a advogada Mariana Alves, de 29 anos, buscou uma maneira de adquirir algumas para si e para a família. Foi aí que ela conheceu a Fashion Masks, uma loja virtual sem fins lucrativos que liga a produção de pequenos negócios de costura a quem precisa se proteger. As costureiras e pequenas fábricas se cadastram no site do projeto e passam a produzir as máscaras de tecido para a iniciativa por meio do sistema de etiqueta aberta: todos os custos e o destino do dinheiro recebido com as vendas são detalhados e não incluem qualquer tipo de lucro para a loja.
Cada unidade pode ser comprada por um valor de R$ 9,90; que corresponde à soma de R$ 4, para matéria-prima e mão de obra dos parceiros, outros R$ 4 pelo controle de qualidade, armazenagem e envio, e R$ 1,90 referente a embalagem e impostos. Pedidos de cinco ou dez máscaras possibilitam redução do preço unitário. Desenvolvida pelos empresários Vitor Gomes e Brenno Faro, a ação já entregou mais de 1 milhão de máscaras e auxilia mais de 60 pequenos negócios do setor têxtil, espalhados pelo Sul e Sudeste do país.
“Desde o início da quarentena, máscaras e álcool em gel já estavam esgotados nas farmácias da cidade. Eu comecei a procurar máscaras na internet e o Fashion Masks apareceu no meu Instagram. Gostei muito da iniciativa de ajudar as costureiras que estão passando dificuldade diante desta pandemia e comprei cinco unidades”, conta Mariana.
Segundo Vitor Gomes, o desafio inicial foi formar a rede de costureiras e o sistema que gerencia site, logística e transportadora: “Nós compramos as máscaras dos parceiros e as revendemos no site. As costureiras mandam lotes grandes para o nosso centro de distribuição e, de lá, nós fazemos os envios de forma profissional, obedecendo os prazos de entrega. Foi a forma mais fácil que encontramos de tirar o projeto do papel, com a venda das máscaras no site começando três dias depois de iniciarmos o movimento”, explica Vitor.
Depois de um um mês de atividade, o ‘Fashion Masks’ passou a adotar um novo modelo em que fornece os insumos das máscaras para os parceiros, também sem receber lucro.
“Começou a faltar tecido 100% algodão e elástico, no mercado. Com nosso novo modelo, conseguimos facilitar e padronizar a produção de todos os parceiros. Agora eles recebem os insumos a preço de custo, com o tecido já cortado na mesma modelagem e cor branca. Faz uma grande diferença para eles continuarem trabalhando”, conta o empresário.
As máscaras compradas por Mariana são produzidas em núcleos de parceiros como o formado por Carolina Bento, 26 anos, e a tia Roseli Del Freu, aposentada e costureira, de 59 anos, na cidade de São Paulo. A jovem criou o perfil RC Mask no Instagram e, por meio dele, vendeu 40 máscaras feitas pela tia. Depois de firmar parceria com o ‘Fashion Masks’, as duas receberam um pedido de 2.500 unidades.
“Eu estou sem renda. Minha tia tem o dinheiro da aposentadoria, mas a venda das máscaras ainda ajuda. Está todo mundo prejudicado com a crise. Eu tinha saído do meu emprego de auxiliar financeira e estava fazendo entrevistas quando a pandemia parou tudo. O dinheiro da venda para o Fashion Masks vai dar um bom respiro para nós duas”, diz Carolina.
A fábrica de uniformes profissionais Brenneke, no Rio de Janeiro, é outro tipo de núcleo parceiro do projeto. Com o início da crise causada pelo coronavírus, pedidos e pagamentos foram postergados, e a fábrica paralisou atividades durante 15 dias. De acordo com o consultor da Brenneke, Anderson Feitosa, o faturamento da empresa sofreu um impacto de aproximadamente 70%. Após estabelecer parceria com o ‘Fashion Masks’, a fábrica forneceu 3 mil máscaras para a iniciativa.
“A parceria com o Fashion Masks possibilitou que a Brenneke olhasse com mais atenção para o cenário de venda de máscaras. Tínhamos uma carteira de clientes de uniformes e também conseguimos atender à necessidade dessas empresas pelos itens de proteção. Hoje, 90% da nossa capacidade produtiva está voltada para máscaras e já entregamos 100 mil unidades entre diversas empresas. A venda delas gera a receita que paga nossas despesas, principalmente a folha de pagamento, e, por isso, não demitimos funcionários”, explica Anderson.
De acordo com a Pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) com mais de 6 mil empresários brasileiros, o segmento da moda já teve uma queda de 77% no faturamento semanal, em comparação com o período que antecedeu a crise do coronavírus. Entre as atividades econômicas mais vulneráveis, o comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios é a que concentra a maior quantidade de pequenos negócios no país: mais de 1 milhão.
Um dos idealizadores do ‘Fashions Masks’, Brenno Faro teve a ideia do projeto depois de assistir a um vídeo da ação #Masks4All, da República Tcheca, que explica como a confecção de milhares de máscaras caseiras e a distribuição gratuita entre as pessoas reduziu a dispersão do coronavírus no país. O ministro da saúde tcheco, Adam Vojtech, participa do vídeo e indica que os demais governos também adotem, em toda a população, o uso de máscaras faciais, mesmo as caseiras.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária indicou que os brasileiros confeccionassem as próprias máscaras feitas de tecido para se protegerem do novo coronavírus. Segundo a Anvisa, a orientação tem como objetivo evitar que a população compre máscaras profissionais e esgote os recursos prioritariamente destinados aos agentes da saúde. No entanto, a falta de equipamentos de costura ou de tecido pode ser um empecilho para quem deseja aderir à alternativa.
As máscaras de tecido funcionam como uma barreira física contra a propagação da doença porque são feitas com duas camadas de pano, assim reforçam a proteção contra o vírus exalado ou inalado no ambiente quando utilizadas de maneira adequada. De acordo com o Ministério da Saúde, o uso da máscara é individual. Se ficar úmida, deve ser trocada. É importante também que seja lavada pelo próprio dono com sabão ou água sanitária e fique de molho por pelo menos 30 minutos.
Produzidas nos núcleos parceiros do ‘Fashion Masks’, as máscaras são encaminhadas para o centro de distribuição do projeto, na cidade de São Paulo, e enviadas para clientes como Mariana.
“Tenho usado as máscaras para ir a todos os lugares que preciso, como mercado e farmácia. Gostei muito da iniciativa principalmente porque, ao ajudar, também protejo a mim e a minha família”, explica Mariana.