Publicado na RBA –
Dezenas de professores e pesquisadores, em sua maioria da USP, reafirmam a ilegitimidade do atual governo e posicionam resistência contra a retirada de direitos
São Paulo – Formado por professores e pesquisadores da USP e colegas de outras universidades, o coletivo Em Defesa dos Direitos Conquistados lançou, no início do mês, vídeo que circula pelas redes sociais e integra a campanha Intelectuais pelo Fora Temer, em que apontam a ilegitimidade do atual governo e as ameaças por ele representadas aos avanços sociais obtidos desde a promulgação da Constituição de 1988.
“Não podemos esquecer que se trata de um governo saído de um golpe de estado”, afirma o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, que foi ministro de Direitos Humanos do governo Fernando Henrique. Segundo ele, é função dos intelectuais apontar a falta de respaldo popular do atual governo, além de “dissecar, analisar e denunciar as políticas antipopulares que estão sendo implementadas”.
“É muito duro isso tudo que estamos vivendo. Direitos pelos quais lutamos muito estão sendo, simplesmente, desprezados como se não fossem nada”, ressalta a antropóloga Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer.
“Foi um golpe midiático e político, envolvendo o Congresso, partidos conservadores e setores do aparelho de Estado, como o Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Federal, etc”, diz a arquiteta e urbanista Ermínia Maricato.
“É necessário o nosso gritar diário pelo ‘Fora, Temer’, por tudo o que ele significa. Significa que o Estado que o brasileiro escolheu como opção foi rompido”, opina a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo Kenarik Boujikian.
Sobre a ausência de tanques nas ruas, o psicanalista Cristian Dunker classifica como um golpe “dietético”: “Cada época tem o golpe que merece. Cada época tem o golpe que está à altura das suas próprias subjetividades e objetividades”.
“Não é um golpe típico, como a gente via anteriormente”, concorda o cientista político André Singer. “O Temer é uma contradição ambulante”, diz o sociólogo Francisco Oliveira. “Temer é um golpista. A dificuldade em enfrentá-lo é que é um golpista constitucional”, complementa.
“Enfrentar e resistir a um governo que é fruto de um golpe, que, portanto, não tem a menor legitimidade para governar, é fundamental para, inclusive, fortalecer e reconstituir o campo da chamada esquerda”, aponta a também arquiteta e urbanista Raquel Rolnik.
Participam ainda Amélia Cohn, Clarice Cohn, Eleonora Menicucci, Gabriel Cohn, Gilberto Maringoni, Heloisa Buarque de Almeida, Jaime Oliva, Jean Tible, João Adolfo Hansen, João Vergílio Cuter, Kabengele Munanga, Laura de Mello e Souza, Leon Kossovitch, Luiz Alberto Moniz Bandeira, Márcia Tiburi, Maria Arminda do Nascimento Arruda, Maria Rita Kehl, Michael Löwy, Newton Bignotto, Olgária Matos, Pablo Ortellado, Paul Singer, Paulo Arantes, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Serrano, Roberto Schwarz, Ruy Fausto, Sérgio Cardoso, Sérgio Rezende, Vladimir Safatle e Walnice Nogueira Galvão.