Compartilhado do Blog de Pedro Consorte –
Essa semana, uma pessoa me procurou num momento de crise, pra ver se eu conseguia apoiar ela com uma espécie de mentoria. O nosso primeiro encontro foi por telefone mesmo.
Eu estava chegando da praia, ainda na rodoviária do Tietê em SP, quando vi uma mensagem dela no WhatsApp e decidi ligar. Como vi que era algo mais urgente, topei fazer a ligação naquele momento e não esperei chegar em casa, até porque já era por volta das 23h.
Uma das primeiras coisas que ela me disse foi que tava super confusa e angustiada, porque a crise tava tão forte que mal conseguia pensar. Era como se a cabeça dela fosse uma panela de pressão.
E, além de não conseguir pensar direito, ela tava vendo que isso também estava afetando a capacidade de organizar a agenda e até organizar a própria casa. Ou seja, a desorganização interna tava se refletindo na desorganização externa.
Uma coisa que me chamou atenção e que eu apreciei bastante foi o fato de ela ter pedido ajuda. Talvez, quando eu comecei a contar essa história, esse detalhe tenha passado despercebido pra você.
Então, é por isso que eu estou ressaltando essa informação preciosa, porque ela, na minha opinião, é um divisor de águas.
Nem todo mundo consegue pedir ajuda. Muita gente tenta resolver sozinho esses momentos de crise, e isso é praticamente impossível.
Quando é possível resolver sozinho, pode ser muito mais difícil e doloroso, porque, como a pessoa está no olho do furacão, isso toma muito mais tempo e energia, do que se ela procurar ajuda de alguém que não esteja também tão envolvido.
Aliás, quando a crise é muito forte, pode até ser perigoso tentar resolver sozinho, porque, quando estamos emocionalmente abalados, existe uma alta chance de tirarmos conclusões bastante negativas e precipitadas, não só sobre o que pensamos das outras pessoas, mas também sobre o que pensamos de nós mesmos.
E isso pode se desenrolar em escolhas abruptas e impulsivas, criando consequências bastante traumáticas e violentas .
Então, na verdade, mesmo vendo que ela estava ali, angustiada, falando comigo naquela hora de crise, eu estava feliz e admirado pelo fato de ela estar pedindo ajuda. Esse era, ao meu ver, o começo da transformação dela. Aparentemente ela já estava se dando conta de que não conseguiria resolver essa situação sozinha e isso é um grande passo.
Falo isso com bastante propriedade, porque trabalho com esses processos de comunicação para apoio emocional já há algum tempo e, toda quarta feira à noite, eu atendo como voluntário no CVV (Centro de Valorização da Vida).
Pra quem não conhece, é uma organização que oferece apoio emocional e prevenção de suicídio a pessoas que estão em crise, deprimidas, angustiadas etc.
Tenho bastante contato com esse processo de confusão mental e, depois de mais de 100 atendimentos, posso afirmar que pedir ajuda é crucial.
Então, conforme ela ia me contanto sobre os acontecimentos que haviam ocorrido recentemente e o que estava sentindo, eu ia me colocando disponível para fazer companhia para ela, de uma forma que pudesse ser acolhedora.
De vez em quando, eu fazia perguntas para ver se realmente estava entendendo o que ela me dizia. Isso pode ser muito bom para esclarecer a comunicação entre as pessoas, porque nem sempre o que um diz é o que o outro entende.
Então, esse processo de checagem com ela foi, ao mesmo tempo, me ajudando a entender o que ela estava dizendo e também ajudando ela mesma a organizar os pensamentos.
Ao se ouvir falando e explicando melhor as coisas que eu não tinha entendido, ela ia esclarecendo para ela mesma o que sentia e do que precisava naquele momento.
Isso também é um ponto chave: quanto mais clareza e precisão temos sobre aquilo que precisamos, mais chance temos de conseguir suprir essas necessidades. Se eu não sei exatamente o que eu quero, fica difícil procurar isso no mundo.
E, além de esclarecer suas próprias necessidades, parecia que ela ia se dando conta das conclusões, histórias e crenças que estavam mais latentes naquele momento.
Aos poucos, conforme eu fui entendendo ela e ela foi se entendendo também, percebi que a voz dela foi suavizando e o ritmo das palavras foi baixando. Isso foi, ao meu ver, um indicador de que estava acontecendo um certo alívio.
Ela foi tendo mais pausas entre as frases e a angústia, que tava presente na voz, foi se transformando e uma entonação mas reflexiva e serena. O problema que ela tinha não havia sido resolvido, mas, pelo menos, ela já conseguia organizar melhor os pensamentos e enxergar as possibilidades com mais nitidez.
Depois de 51 minutos de ligação, ela estava se sentindo melhor, mais esperançosa sobre como as coisas poderiam se desenrolar. Foi aí que ela pediu para marcarmos outro dia para aprofundar melhor essa mentoria, porque já estava exausta e começando a sentir um certo sono.
Isso também é um indicador interessante: a pessoa relaxa e começa a pensar em ir descansar, para decantar o que sentiu. É como se fosse uma calmaria depois de uma tempestade forte.
A gente marcou outro dia pra continuar e, então, desligamos. Eu segui em frente, porque ainda estava a caminho de casa, mas segui diferente, por ter sentido que pude apoiá-la. Ela podia ter pedido ajuda para outra pessoa e eu não sei se isso teria ajudado tanto.
Pedir ajuda funciona melhor, quando pedimos ajuda a alguém que tem condições de nos ajudar. Por mais que a intenção de quem está à nossa volta possa ser boa, às vezes ela não é suficiente pra realmente ajudar no que precisamos. Felizmente, naquele caso específico, ela pediu ajuda pra mim e eu podia ajudá-la.
O que ela precisava, além de compartilhar e aliviar a angústia, era também organizar um pouco os pensamentos e, principalmente, visualizar possibilidades que não via antes.
Talvez, se ela tivesse pedido ajuda a um parente ou amigo, não tivesse ajudado tanto, porque pessoas próximas e sem conhecimentos sobre inteligência emocional podem reagir de formas inesperadas, criando julgamentos, culpabilizando o outro e até sendo agressivas, pelo fato de também se perderem emocionalmente na conversa.
Me inspiro nessa situação, para refletir sobre o fato de todos nós precisarmos de ajuda, principalmente quando estamos no olho do furacão e nos sentindo sozinhos.
Que a gente possa exercitar esse músculo responsável por pedir ajuda, porque ele é extremamente importante. E, de preferência, que possamos pedir ajuda a alguém que tenha conhecimentos que possam apoiar os nossos processos mentais e emocionais.