A economia é o tema central das eleições de outubro. Assim, observar a evolução das intenções de voto, a partir da renda dos eleitores é variável importante na sucessão presidencial. A rigor, não há novidade nisso. Os mais ricos sempre lutam para a manutenção do chamado status quo. É o caso da conjuntura eleitoral brasileira. Os números revelam a assertiva. Da Arko Advice
Compartilhado de CONTEE
bolsoanaro lula 2022
Faltando em torno de 90 dias para o primeiro turno, temos um País socialmente dividido, aponta a análise.
Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o preferido dos segmentos de menor renda — até 2 salários mínimos —, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se sobressai nos setores de renda mais alta — mais de 5 a 10 salários e acima de 10 salários mínimos. Nos setores da chamada “classe média” — renda de mais de 2 a 5 salários —, temos o quadro é de empate técnico.
Intenção de voto a partir da variável renda
A partir das pesquisas que vêm sendo realizadas pelo instituto Datafolha, desde dezembro de 2021, a Arko Advice mediu a evolução das intenções de voto dos principais pré-candidatos ao Palácio do Planalto, a partir da variável renda.
No segmento mais expressivo do eleitorado, quando se observa a variável renda — eleitor com renda mensal de até 2 salários, que representa 52% da população —, Lula possui folgada vantagem sobre Jair Bolsonaro (ver tabela abaixo).
Neste momento, Lula leva distância de 36 pontos percentuais em relação a Bolsonaro. Para reverter tal desvantagem, Bolsonaro aposta nas medidas anunciadas pelo governo como, por exemplo, o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e a redução do ICMS sobre os combustíveis, que somente serão medidos nos próximos levantamentos.
Até 2 SM (salários mínimos)
Quando se observa a renda dos eleitores, o segundo segmento mais importante é a faixa com renda mensal de mais de 2 a 5 salários, que representa 32% do eleitorado. Nessa faixa de renda, apesar da vantagem numérica de Lula sobre Bolsonaro, tem-se quadro de empate técnico quando se considera a margem de erro admitida pelo Datafolha — 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Mais do que isso, percebe-se tendência de crescimento de Bolsonaro, que desde dezembro do ano passado ganhou 8 pontos percentuais. Nesse mesmo período, Lula ficou praticamente estável. Outro aspecto importante nessa faixa de renda é o desempenho do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que supera os 2 dígitos das intenções de voto (ver tabela abaixo).
Mais de 2 a 5 SM
Mais ricos
A partir dos segmentos com renda mensal acima de 5 salários mínimos, tem-se mudança importante no comportamento eleitoral, com Jair Bolsonaro assumindo a liderança da corrida eleitoral. Na faixa de renda mensal de mais de 5 a 10 salários, que concentra 8% da população, Bolsonaro leva vantagem de 15 pontos percentuais sobre Lula.
Nota-se que em relação a dezembro de 2021, Bolsonaro ganhou 13 pontos. Lula, no mesmo período, embora tenha crescido de março para maio, apresentou tendência de queda em junho. Ciro Gomes, por sua vez, nessa faixa de renda, volta a superar os 2 dígitos das intenções de voto.
Mais de 5 a 10 SM
Renda acima de 10 mínimos
Na faixa de renda acima de 10 salários mínimos, que concentra 3% do eleitorado, Jair Bolsonaro volta a registrar vantagem de 13 pontos sobre Lula. Nesse segmento do eleitorado, Bolsonaro ganhou 15 pontos em relação a dezembro do ano passado. Lula, por sua vez, apesar da desvantagem, ganhou 10 pontos nesse mesmo período.
Mais de 10 SM
A evolução das intenções de voto dos principais presidenciáveis, considerando a variável renda, aponta País socialmente dividido. Os setores da sociedade mais prejudicados pelos efeitos negativos da pandemia sobre a economia — em especial o aumento da inflação sobre combustíveis, alimentos, gás de cozinha etc. — concentram a preferência eleitoral por Lula.
Conforme se pode observar nas tabelas acima, hoje, Lula supera Bolsonaro somente na fatia do eleitorado com renda mensal de até 2 salários. Porém, esse público representa 52% do eleitorado. Outra vantagem para Lula é a igualdade de condições com Bolsonaro entre quem ganha mais de 2 a 5 salários, parcela que concentra 32% do mercado eleitoral.
O clima social adverso, principalmente para as camadas mais pobres da população — de acordo com o Datafolha, 26% dos entrevistados afirmaram que a comida disponível em casa nos últimos meses foi abaixo do suficiente —, e a lembrança positiva que parcela do eleitorado possui dos 8 anos de governo Lula (2003-2010) também funcionam como atributos de imagem para o ex-presidente.
Outro aspecto interessante a ser observado envolve o desempenho de Ciro Gomes nas faixas de renda de mais de 2 a 5 salários e de 5 a 10 salários, que supera os 2 dígitos. Esse eleitor pode, por exemplo, definir se a eleição terá 1 ou 2 turnos. Por isso, a pressão do PT sobre o PDT em favor da desistência de Ciro pode crescer caso o atual cenário se mantenha até outubro.
Apesar de Jair Bolsonaro ter desempenho positivo na faixa de renda de mais de 5 a 10 salários e acima de 10 salários, esses segmentos representam somente 11% do eleitorado nacional.
Assim, nos próximos meses, o grande desafio de Bolsonaro será reduzir a desvantagem sobre Lula no segmento que recebe até 2 salários – por isso a preocupação do governo com o aumento da inflação, principalmente no que diz respeito aos combustíveis.
Além disso, o presidente necessita melhorar o desempenho com a chamada “classe média” — renda mensal de mais de 2 a 5 salários.