Intervenção militar: Jogada de gângster

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

A intervenção militar no Rio de Janeiro é a mais ousada jogada politiqueira da cleptocracia que tomou de assalto o governo federal depois do golpe parlamentar. Fará mal ao país e às instituições, ao povo fluminense, ao erário etc. Mas, é preciso reconhecer, até para combatê-la, que conta com forte apoio popular ao menos no início.

A entrada dos milicos em cena, na verdade sua oficialização pois já fazem parte da cena carioca tem alguns anos, representa sim uma esperança para os cidadãos cansados da violência causada pela associação da desigualdade social com cumplicidade das polícias com o crime organizado, corrupção de governos, falta de uma política contemporânea para abordar a questão drogas e o descaso com as vidas, principalmente dos mais pobres, entre outros fatores. Não são, portanto, obrigatoriamente fascistas os desinformados que não suportam mais os tiroteios e a violência no Rio.




É provável que a militarização no enfrentamento ao crime organizado dê resultados no primeiro momento. Sabe-se, porém, que se trata de uma opção de enxugar gelo, sem contar o dano institucional e democrático. Sem mudanças profundas em quase tudo, não se enfrenta a questão da violência.

Mas para a gangue do Palácio do Planalto o que vale é o curto prazo, mais precisamente até outubro deste ano, É cada vez mais óbvio que o objetivo maior da loucura de Temer é o calendário eleitoral.

Odiado pela imensa maioria da população, o presidente ilegítimo enxergou na intervenção pirotécnica a última chance de estancar a sangria sem fim da popularidade. Não se quer combater o crime, mas sim acobertar e, se colar, perpetuar o crime de colarinho branco no Poder. Temer delira, sim, e sonha com a reeleição. A farda no Rio é antes de tudo a vontade de surfar na insegurança do povo.

A pressão sobre a escola de samba Paraíso do Tuiuti, a permissão excepcional para mandados de busca e apreensão coletivos, que confinarão bairros pobres inteiros em guetos sujeitos a todo tipo de truculência militar, e todo aparato bélico atestam que está em curso uma verdadeira opção pelo estado Policial e Militar.

Temer e seus comparsas perderam o limite em busca de absolvição popular por meio de um sentimento de insegurança que em grande parte é causado por sua política econômica e pela retirada de direitos sociais e trabalhistas.

O Vampirão e sua gangue estão no seu papel. E as esquerdas? Não é uma situação cômoda. É preciso reconhecer que o campo progressista não tem uma política clara de Segurança e que, principalmente, a repulsa à violência do dia-a-dia abarca a maioria da sociedade, incluindo-se aí os pobres.

É o pobre que corre e se esconde de tiroteios no morro, que é vitimado por bala perdida, que teme perder o emprego por não conseguir chegar ao trabalho. Não basta, portanto, criticar quem aceita como última esperança o equívoco de usar as Forças Armadas no Rio.

Existem sim os fascistas que acham que só a truculência resolve o problema. Mas o mesmo balaio abriga trabalhadores simplesmente cansados da situação que em alguns lugares é dramática tem anos. A propósito, quem vive fora da Zona Sul vê diariamente as cenas que a TV Globo mostra agora na orla.

Se é necessário saber ler a nova situação política criada com a surfada de Temer no medo legítimo de trabalhadores, é preciso também que as esquerdas não renunciem à denúncia do golpe que está em curso. Às vezes a História coloca os progressistas num primeiro momento em campo que não é o da maioria instantânea  da população.

É preciso combater sim a manobra eleitoreira da quadrilha do MDB, que rapta de Bolsonaro a enganosa tese de combater violência e polícias corruptas com violência legalizada e, agora, fardada. O que está em curso no Rio, e que dependendo dos resultados iniciais pode ser estendido a outros Estados brasileiros, é mais um crime de quadrilheiros contra a Democracia e o povo.

Foto: Mario Tama/ Staff/Getty Images

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