Um dos maiores criminalistas do País, Kakay defendeu em sessão da Câmara a investigação profunda dos ilícitos praticados pela Lava Jato
Por Cintia Alves, compartilhado de GGN
O trabalho da Corregedoria Nacional de Justiça, liderado pelo ministro Luís Felipe Salomão, confirma o que há anos juristas que acompanharam a Lava Jato de perto suspeitavam: que há indícios de que houve interesses financeiros ou pessoais por parte dos magistrados e procuradores envolvidos. É o caso do advogado criminalista, Antônio Almeida Castro, o Kakay, que exaltou o trabalho de Salomão e afirmou que, agora, é hora de a Procuradoria-Geral da República transformar o material em notícia-crime para que figuras como Sergio Moro e Deltan Dallagnol sejam investigados.
No mês passado, Salomão entregou ao plenário do CNJ um relatório com mais de 1 mil páginas, fruto do trabalho da correição extraordinária realizada na 13ª Vara Federal de Curitiba e na 8ª Turma do TRF-4. A correição concluiu que agentes da Lava Jato incorreram nos crimes de peculato, prevaricação e corrupção, por terem usado os recursos pagos por investigados a título de multa para atender a seus próprios interesses, como na tentativa de constituição da Fundação Lava Jato.
“Eu falava desde o início que tinham que investigar [a atuação da Lava Jato] porque estavam quebrando grandes empresas para combater corrupção. Corrupção quem comete são pessoas, não empresas. E depois, descobriu-se o ponto fundamental: existia, sim, conluio [entre a Lava Jato] com autoridades americanas, inclusive na feitura daquela fundação privada onde 2,5 bilhões [de reais] seriam aproveitados. É quase um fundo partidário que esses procuradores, indigentes intelectuais sem escrúpulo nenhum, queriam criar para fazer política. Quem diz isso não sou eu, é o Conselho Nacional de Justiça”, disparou Kakay.
O criminalista que defendeu mais de duas dezenas de clientes na Lava Jato foi ouvido na tarde desta terça (21) na Câmara dos Deputados, em Brasília, numa sessão convocada por parlamentar do Novo por ocasião dos 10 anos da Lava Jato. Também foi convidado o ex-procurador e ex-deputado federal cassado, Deltan Dallagnol.
Assine nossa newsletter para não perder os principais fatos e análises do dia.
Após fazer sua explanação mostrando os abusos da Lava Jato, Kakay asseverou que a operação não acabou. “A Lava Jato está agora em processo diferente, de necessária investigação desses juízes e procuradores da força-tarefa”. O jurista fez um paralelo entre o atual trabalho do CNJ e da PGR contra agentes da Lava Jato e a época da ditadura, quando o País decidiu não fazer o enfrentamento correto aos militares que atuaram como torturadores em nome do Estado.
Para Kakay, sem fazer justiça de transição, o Brasil pagou um preço caro e viu, em 2018, a ascensão de um filho do fascismo, Jair Bolsonaro, apoiado por setores golpistas da área militar.
“Sabendo do que estamos sabendo, temos que investigar [a Lava Jato]”, disse. “O trabalho do Salomão, o relatório diz que a Lava Jato – Sergio Moro, Deltan Dallagnol, Gabriela Hardt e outros – se uniram para fazer irregularidades. E ele diz: corrupção, peculato, prevaricação. A obrigação agora que se tem é de transformar o relatório em notícia-crime, para que a Procuradoria-Geral da República possa fazer uma investigação séria”, concluiu.