Por Miguel do Rosário, em O Cafezinho –
Tenho novidades bem interessantes, quiçá explosivas, sobre a operação Lava Jato, e informações que jamais sairão na mídia.
Informações que nos ajudarão a entender os interesses políticos e econômicos por trás da operação.
Mas fica para o próximo post, que tentarei publicar ainda hoje, ao final da tarde.
Por enquanto, deixo apenas algumas opiniões.
Ninguém duvida que há um grupo querendo derrubar o governo; o que, admitamos, faz parte do jogo democrático.
Ninguém duvida também que este mesmo grupo está usando a Lava Jato com este objetivo.
Ninguém duvida, da mesma forma, que a mídia familiar, com seus tentáculos por todo o país, integra o núcleo duro deste grupo.
Hoje, por exemplo, a Folha publica uma entrevista com um advogado de 82 anos, com direito a chamada de capa, que não tem outro objetivo senão emparedar ainda mais a presidenta Dilma.
O advogado se posiciona fortemente contra a intenção do governo de não deixar as principais empresas de construção civil se desmancharem, provocando desemprego e um efeito dominó na economia brasileira.
Não há a mínima preocupação, nas falas do advogado, nem nas perguntas da Folha, sobre a questão social.
O advogado fala que a presidenta estaria incorrendo em “crime de responsabilidade” ao oferecer acordo de leniência às empreiteiras, numa tentativa de assustar Dilma.
Óbvio: a mídia já começou a buscar brechas para o impeachment.
É assim: ou Dilma deixa o país quebrar, o que levaria a um desgaste social e político que facilitaria o impeachment, daqui a um ou dois anos; ou ela não deixa o país quebrar, e leva o impeachment justamente por fazer isso.
Um desafio e tanto para um coração valente que, neste segundo mandato, ainda não demonstrou tanta valentia assim. Não há enfrentamento político contra a oposição, representada principalmente pela mídia.
A falta de enfrentamento faz o governo sofrer derrotas em série, na justiça, no MP, no Congresso, na imprensa, nas redes sociais, na opinião pública, nas ruas.
Quem não luta, perde.
E perderá sempre enquanto não reagir com uma estratégia ofensiva e inteligente, usando as armas que ela tem: a caneta presidencial, o apoio da classe trabalhadora organizada e de uma extensa e orgânica militância que, até o momento, assiste a tudo com um sentimento de perplexidade e impotência, porque o governo parece lhe ignorar.
Para a elite rentista e neoliberal que domina a mídia e exerce um domínio quase hegemônico sobre o debate político em nosso país, o governo pode torrar mais de R$ 300 bilhões para salvar bancos, como fez FHC no Proer, mas deveria permitir, em nome da luta contra a corrupção, o desmantelo das maiores empresas de construção civil do país.
Na mesma Folha, nota-se o suporte à posição do Ministério Público, de se posicionar contra qualquer esforço do governo para salvar as empresas de construção civil de um processo de falência generalizado.
O único enfrentamento político do governo tem sido falar, às vezes, em “golpismo”. Mas como não tem coragem de apontar os mentores desse golpismo, a denúncia fica vazia. Soa desesperado e oportunista.
É preciso fazer um enfrentamento completo, não pela metade, apontando o longo histórico da elite brasileira de usar a mídia para manipular a opinião pública e produzir a sensação de caos e ingovernabilidade.
É preciso falar de história. E não apenas falar, mas adotar iniciativas políticas que injetem ânimo e esperança na classe trabalhadora.
Por exemplo, o governo deveria lançar um programa de redistribuição das verbas publicitárias, empoderando as periferias desse enorme país, onde as pessoas não tem voz, e são massacradas diariamente por uma mídia que é a sua inimiga ideológica.
São medidas que fortaleceriam o governo e, portanto, proporcionariam estabilidade política.
Valem tanto quanto medidas de ajuste fiscal.
Qual o sentido, meu Deus, em gastar bilhões em propaganda na Globo e em outros canais, todos subserviente às diretrizes emanadas das corporações?
E a coisa está crescendo – e piorando.
Agora o Twitter envia boletins com resumo de notícias a todos os seus assinantes, e as notícias são sempre da Veja, Globo e Folha.
Surgiu o Elemídia, uma empresa que instala telões em elevadores, shoppings, ônibus, locais públicos, distribuindo notícias da Veja, Estadão, Folha e Globo.
Sem investir pesadamente na mídia (não confundir com investimento em propaganda, que não vale nada diante do poder da mídia), o governo, e o Brasil, está perdendo espaço.
E vai perder cada vez mais, dia a dia.
De que adianta fazer ajuste fiscal se o país caminha para um cenário de instabilidade política provocado pela mídia e pela oposição?
A instabilidade política causa danos à economia e aí o ajuste fiscal, cujo objetivo é sanear as contas públicas, perde o sentido, torna-se contraproducente.
Sem ação política, e ação política distribuída à população, através de investimentos maciços em mídias alternativas que reduzam o poder da mídia familiar, o governo vai continuar perdendo popularidade e sendo derrotado sistematicamente, em todas as frentes.
Temos aí a TVT, um projeto ambicioso, e ainda sem recursos do governo federal. Temos milhares de empreendimentos alternativos, revistas e jornais que fogem ao discurso hegemônico da mídia, que precisariam de publicidade institucional para ganharem consistência.
A mídia corporativa nasceu e vive de verbas públicas.
O governo vai manter esta situação até quando, até o suicídio ou até a ruína nacional?