Por Wilson Renato Pereira, Jornalista, Psicanalista, “Lupulomaníaco” –
Um argh! para quem ainda está nos degraus iniciais com as levíssimas Standard Light Lagers (também conhecidas no Brasil como “louras geladas”) e um nariz torcido para os que se consideram sábios em matéria de cerveja e acham que as India Pale Ales não passam de modismo para iniciantes. Essas, as reações mais radicais sobre a IPA, o estilo inventado pelos britânicos no período de colonização das terras orientais e que, ainda hoje, é adorado por lupulomaníacos em todo o mundo.
Confesso que vou ter que resistir e ser comedido nesta coluna, pois elas são as minhas prediletas, fascinado que sou pela explosão de aromas e sabores de malte e lúpulo que acontece logo ao aproximar os sentidos da taça com uma boa IPA. Foi paixão ao primeiro gole, quando, ao entrevistar um cervejeiro mineiro, anos atrás, pedi que ele ilustrasse sensorialmente o que tinha dito sobre a qualidade das cervejas artesanais. Devo a uma IPA, portanto, o meu ingresso nesse fantástico mundo dos maltes, lúpulos e leveduras.
Derivada das pale ales inglesas, a primeira cerveja desse estilo foi a Hodgson’s, fabricada em Londres, em 1820. Os comerciantes que exportavam seus produtos para o oriente tinham percebido que as cervejas mais lupuladas conservavam melhor sua qualidade após as longas, extremamente quentes e turbulentas viagens de navio para aquela parte do mundo. Dai, surgiram as “pale ale as prepared for India”, “India Ale”, “pale India ale” e “pale export India ale”. O nome “India Pale Ale” foi usado, oficialmente, em janeiro de 1835.
Segundo o guia do Beer Judge Certification Program (BJCP), uma IPA representante da escola inglesa tem o aroma de lúpulo de moderado a moderadamente alto e de natureza floral, terrosa ou frutada, com presença de malte pale com notas de caramelo ou tostado. A cor varia de âmbar dourado até cobre claro, mas a maioria vai de âmbar pálido a médio e com tons alaranjados.
Uma típica IPA é límpida, ainda que versões não filtradas que passam por dry-hopping (adição de lúpulo também na fermentação ou maturação) possam ficar um pouco turvas. A exceção vai para a Black IPA americana, de cor escura. O colarinho é quase branco, persistente, enquanto o sabor e amargor de lúpulo de médio a alto, mas não ao ponto de mascarar a qualidade da bebida. Já o sabor do malte deve ser perceptível, agradável e dar suporte ao lúpulo, lembrando pão, biscoito, tostado e/ou caramelo.
Essas cervejas devem ter uma quantidade suficiente de ingredientes em equilíbrio, alcançado com a arte dos bons cervejeiros. As versões inglesas possuem caráter menos lupulado e um sabor de malte mais evidente do que as versões americanas ou de uma Imperial India Pale Ale (Double IPA), que são “uma ‘pancada’ de aroma e amargor advindos do lúpulo, extrapolando as referências do estilo”, na definição do cervejólogo Rodrigo Lemos, com quem acabei de fazer um curso específico sobre as IPAs.
Atualmente o nome “IPA” é aplicado a esses três subestilos, produzidos em países como Inglaterra, Escócia, EUA, Brasil, Bélgica, Alemanha e outros, mas tem sido utilizado incorretamente em cervejas com teor alcoólico menor que 5%. Uma boa representante do estilo deve ter seu índice de amargor na faixa de 40 – 60 IBU, enquanto a coloração (Standard Reference Method) fica entre 8 e 14 SRM. Já o teor alcoólico (ABV) deve situar-se no intervalo 5 – 7,5%. Alguns bons exemplos: Meantime India Pale Ale, Fuller’s IPA, Brooklyn East India Pale Ale, Brewdog Punk IPA, Ballast Point Sculpin IPA, Colorado Indica, Falke Estrada Real, Küd Kashmir, Perigosa Imperial IPA, Bodebrown Cacau IPA, só para citar algumas.