O texto abaixo é o grande amigo do blog, José Carlos Asbeg, e surgiu da idéia de fazermos uma nova seção, que virá, com fotos, de profissionais ou não, no recolhimento. A seção terá o nome de “Visões da Quarentena”. Aqui, antecipamos o belo texto do jornalista e cineasta.
“…O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar…*” Criatividade acima de todos, felicidade acima de tudo. Do coronavírus, a ciência cuida e cuidará. Do capitão, cuidarão os poderes do povo consciente no momento certo da história.
Hoje não tem futebol, mas eu revejo lances acrescidos de minha imaginação. Revejo jogos que nunca vi e neles meu mengão, queridão do meu coração não perdeu um.
Hoje não tem beijo na boca, não tem namorada, não tem enrosco que nos deixa a dois passos do paraíso. Mas eu imagino curvas de Sofia Loren onde percorro debaixo de um céu azul de lençóis de seda rescendendo a lavanda.
Hoje não tem Violeta no meu colo, não tomamos sorvete de morango, não conto história pra ela dormir. Violeta tá na telinha de um celular pulando o confinamento na amarelinha desenhada debaixo da janela.
Hoje faço passeios intermináveis pelos quatro cantos da casa, descubro luzes, brilhos e reflexos até então escondidos que vibram na chaleira e nas panelas.
Cinema é cachoeira, ensinava mestre Humberto Mauro e minha cabeça é um cinema paradiso. Filmes, já fiz mais de dez em cores e preto e branco, com trilhas de Paulo Baiano, Perinho Santana e Astor Piazzolla.
Vivo preguiça desarrumada, converso com os passarinhos e com os peixes e me distraio inventando imagens em tudo que esbarro.
*”Felicidade”, música de Lupicínio Rodrigues.
Auto foto de José Carlos Asbeg