O Exército de Israel fez “ataques direcionados contra alvos militares” no Irã na madrugada de sexta-feira para sábado (26/10).
Compartilhado de BBC
A mídia estatal iraniana afirmou que várias explosões foram ouvidas na capital, Teerã.
Bases militares no oeste e no sudoeste da capital iraniana foram os alvos principais, de acordo com uma agência de notícias iraniana próxima à Guarda Revolucionária do país.
A mídia estatal iraniana diz que dois soldados foram mortos durante as operações.
Desde ataques iranianos contra Israel no dia 1º de outubro, era esperada alguma retaliação por parte de Tel Aviv.
Os Estados Unidos foram avisados previamente dos ataques. Mas o Pentágono garantiu que os EUA não têm participação no ataque.
As forças israelenses afirmaram que, “como qualquer outro país soberano do mundo”, o país teria “o direito e o dever de responder” a ataques que “o regime do Irã e seus representantes na região” têm realizado contra Israel desde 7 de outubro de 2023.
Nessa data, o grupo palestino Hamas realizou vários ataques a Israel, matando aproximadamente 1.200 pessoas e levando cerca de 250 reféns para Gaza.
Desde então, em retaliação, os ataques de Israel ao território palestino já deixaram mais de 42.840 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas.
O porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), Daniel Hagari, gravou um vídeo anunciando os ataques contra o Irã nesta sexta.
Um conflito que se expande
Nas últimas semanas, o conflito no Oriente Médio escalou em direção ao Líbano, onde Israel realiza ofensiva contra o grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã, assim como contra o Hamas na Faixa de Gaza.
“Nossas capacidades defensivas e ofensivas estão totalmente mobilizadas”, disse o e o exército israelense na sexta-feira (25/10).
“Faremos o que for necessário para defender o Estado de Israel e o povo de Israel.”
Desde os ataques de 7 de outubro de 2023, analistas e governos de todo o mundo expressaram preocupação de que o conflito pudesse provocar uma reação em cadeia na região — e um confronto aberto e direto entre iranianos e israelenses.
Em 1º de abril deste ano, um ataque aéreo israelense ao consulado do Irã na Síria matou dois generais de alto escalão.
No que pareceu uma retaliação, o Irã atacou Israel com drone e mísseis em 13 abril.
No início de outubro, a Guarda Revolucionária do Irã novamente atacou Israel com mísseis, e descreveu o ataque como uma retaliação pelo assassinato em julho do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, assim como do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em setembro.
Em meados de outubro, Israel matou o líder do Hamas, Yahya Sinwar, em Gaza.
Ataques israelenses atingiram três locais no Irã
De acordo com a mídia estatal iraniana, os ataques de Israel tiveram como alvo bases militares em Teerã, bem como locais na província ocidental de Ilam e no sudoeste do Khuzestan.
Israel diz que seus “ataques precisos e direcionados” atingiram instalações militares iranianas “em áreas diferentes”, mas não confirmou os locais.
As forças de defesa aérea do Irã disseram em uma declaração que os ataques foram combatidos com sucesso com “danos limitados” nesses locais.
Antes do ataque, a mídia israelense relatou que o país, por meio de terceiros, havia enviado uma mensagem ao Irã pedindo que fizesse retaliações.
Os ataques de 1º de outubro do Irã a Israel e os ataques de Israel hoje ao Irã sugerem que nenhum dos países busca uma guerra em grande escala, com ambos os lados tomando medidas para minimizar as baixas.
As instalações petrolíferas e nucleares do Irã, por exemplo, foram deliberadamente evitadas nos ataques.
O porta-voz militar israelense Daniel Hagari afirmou que os alvos incluíam locais de produção de mísseis e sistemas de defesa aérea. O foco, ao que parece, está mais em demonstrar alcance militar do que em infligir danos severos.
Já a mídia estatal iraniana afirma que Israel exagera na escala dos ataques.
Em abril, o governo iraniano negou que as defesas aéreas iranianas perto de Isfahan haviam sido atacadas — mas, na semana passada, o general Jafari, ex-comandante da Guarda Revolucionária, admitiu que a operação de fato aconteceu, embora tenha minimizado o impacto que teve.
Nos próximos dias, muitos em Israel e no Irã prenderão a respiração para ver se haverá retaliações — ou seja, se o Irã se absterá de responder, como fez após o incidente de Isfahan, ou se escolherá um curso de ação diferente.
Países árabes condenam ataques ao Irã
Os Emirados Árabes Unidos anunciaram que condenam os ataques de Israel ao Irã e enfatizaram a importância de “exercer o máximo de autocontrole e julgamento para mitigar riscos e evitar a expansão da escala do conflito”.
A Arábia Saudita também condenou os ataques, descrevendo-os como uma violação de “leis e normas internacionais”, e instou “todas as partes a exercerem o máximo de contenção e reduzirem a escalada”.
O Catar expressou uma “forte condenação” aos ataques israelenses, também descrevendo-os como uma “clara violação” do direito internacional, e instou “todas as partes envolvidas a exercerem contenção”.
O Egito disse estar profundamente preocupado com a escalada do conflito no Oriente Médio, o que inclui os ataques israelenses ao Irã, e condenou todas as medidas que ameacem a segurança e a estabilidade da região.
Posição dos Estados Unidos
Os EUA pediram que o Irã não retalie os últimos ataques israelenses.
“Se o Irã decidir responder mais uma vez, estaremos prontos, e haverá consequências para o Irã”, aponta uma declaração de altos funcionários do governo de Joe Biden.
“Este deve ser o fim da troca direta de tiros entre Israel e Irã”, continua a declaração, que acrescenta que Washington estava preparado para “liderar um esforço que garantisse o fim da guerra no Líbano” e tentar alcançar um cessar-fogo em Gaza, juntamente com o retorno dos reféns israelenses.
O governo Biden disse que Israel tem o direito de se defender e de responder ao ataque iraniano realizado no início de outubro.
Mas o presidente dos EUA disse a Israel que não apoiaria um ataque contra as instalações nucleares do Irã, por preocupações de que isso desencadearia uma nova escalada no conflito.
Biden também sugeriu que os americanos não apoiariam um ataque israelense à infraestrutura de petróleo do Irã.
“Se eu estivesse no lugar [de Israel], pensaria em outras alternativas além de atacar os campos de petróleo iranianos”, afirmou Biden em 4 de outubro.
Este mês, o presidente americano também pediu que Israel fosse proporcional em sua resposta aos ataques do Irã.