Hidrelétrica amplia ações socioambientais na região do Paraná onde energia limpa, meio ambiente e turismo ecológico estão interligados
Por Carla Lencastre, compartilhado de Projeto Colabora
Vista da hidrelétrica Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, Paraná (Foto: Carla Lencastre / Dezembro 2021)
Foz do Iguaçu, Paraná*. Final de 2021. A engenheira florestal Veridiana Pereira planta uma muda de ipê-amarelo. Naquele momento, a Itaipu Binacional alcança uma meta de compensação ambiental: 24 milhões de árvores ao longo de quatro décadas. É um dos maiores programas mundiais de reflorestamento. Afinal, o impacto socioambiental causado pela criação da usina hidrelétrica, em meados da década de 1970, está entre os maiores do planeta.
Em 2019, mais de 100 mil hectares protegidos no entorno do reservatório (de um total de 300 mil), nas margens brasileira e paraguaia, foram reconhecidos como área núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, parte do programa Homem e Biosfera, da Organização das Nações Unidas (ONU). Dados de 2017 da Fundação Mata Atlântica, mostram que nos últimos 30 anos Itaipu foi responsável pela recuperação de cerca de 30% das áreas florestais do Paraná.
Na margem brasileira do reservatório, o projeto de reflorestamento em áreas protegidas, que começou em 1979, hoje forma um corredor ecológico de Mata Atlântica, passando por dentro da Fazenda Santa Maria, propriedade particular, produtora de soja e criadora de gado. Este corredor liga os parques nacionais do Iguaçu e de Ilha Grande, na divisa de Paraná e Mato Grosso do Sul, e inclui as áreas protegidas de Itaipu e as matas ciliares de 29 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná 3. Em meados do ano passado, a usina e o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica deram início a uma gestão descentralizada de uma área que abrange cerca de 860 mil hectares.
Com autorização do Ibama, corredores na faixa de proteção permitem que pescadores tenham acesso ao reservatório, como José Amâncio Rodrigues, o Zé Barba, de 70 anos. Integrante da Colônia São Pedro, em Santa Terezinha de Itaipu, ele diz pescar até 80kg por mês, incluindo surubins e tucunarés. Na margem brasileira, a faixa de cerca de 30 mil hectares, com mata nativa e de reflorestamento, tem 1,4 mil km de extensão e largura média de 210 metros. Esta área ao longo do reservatório é importante para garantir a segurança hídrica, evitando, por exemplo, erosões e mantendo a água limpa. A boa qualidade da água aumenta a vida útil da usina. Dados do Ministério das Minas e Energia mostram que, mesmo com a escassez hídrica em 2021, Itaipu gerou mais de 10% da energia consumida no país ano passado.
Os projetos de preservação ambiental da Itaipu Binacional são guiados pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, destaca Ariel Scheffer, superintendente de gestão ambiental: “Nossa ênfase é no ODS 6, de acesso à água potável, e no ODS 7, acesso à energia limpa e renovável. Para isso, todos os projetos são desenvolvidos a partir da conservação da biodiversidade da fauna e da flora”.
A preocupação com a qualidade da água que gera energia beneficia a comunidade. A pesca artesanal acontece a partir de determinados pontos, onde há pequenas prainhas com infraestrutura básica de lazer para a comunidade local. Em algumas áreas do reservatório há criação de peixes em tanques-redes para que os pescadores não fiquem sem renda durante os períodos de defeso. Segundo a Itaipu Binacional, essas áreas aquícolas para piscicultura são monitoradas de modo que a quantidade de peixes não comprometa o equilíbrio ambiental.
Refúgio Biológico Bela Vista, o cartão de visitas das ações socioambientais da Itaipu Binacional
Parte das ações socioambientais podem ser conferidas pelo público em geral, como o fascinante Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), um dos dois na margem brasileira do reservatório. Há outros refúgios do lado paraguaio e um na fronteira entre os dois países, todos administrados pela Itaipu Binacional. Criado em meados da década de 1980, quando a hidrelétrica começou a operar, o RBV tem quase 2 mil hectares e faz parte do corredor ecológico de Mata Atlântica que liga os parques do Iguaçu e da Ilha Grande. É, como a própria Itaipu anuncia, uma vitrine das medidas socioambientais da empresa.
Na época da sua criação, o RBV acolheu mais de dez mil animais que viviam nas áreas inundadas para a formação do reservatório da hidrelétrica. Hoje é centro de conservação da biodiversidade, de pesquisa, de educação ambiental e de turismo ecológico. Além dos animais nascidos no local, o refúgio abriga outros em situação de risco, encaminhados por órgãos ambientais. O RBV é um local de conservação genética da fauna, com mais de 50 espécies, entre mamíferos, aves, répteis e anfíbios. O grande astro é a onça-pintada macho Valente. Mas as harpias têm seu fã-clube. Não por acaso são duas espécies ameaçadas de extinção. Mais de mil animais já nasceram nos refúgios nas margens brasileiras, com índice de sobrevivência de 70%. Um bem-sucedido programa de reprodução na década passada gerou mais de 50 harpias, das aves de rapina mais ameaçadas de extinção, e três onças-pintadas.
Além de ver os animais, o visitante conhece o laboratório de sementes e o viveiro de mudas da flora nativa da Mata Atlântica, com produção anual de quase 400 mil mudas de cerca de cem espécies fundamentais no processo de reflorestamento, e faz uma trilha guiada para observar a floresta nativa. É um passeio imperdível (assim como a visita à hidrelétrica), em uma região que tem como maior atrativo turístico nada menos do que as Cataratas do Iguaçu.
Serviço
O Centro de Visitantes da Itaipu Binacional fica em Foz do Iguaçu. O Refúgio Boa Vista está aberto para visitação turística de quarta a segunda-feira, e o ingresso custa R$ 35. Informações sobre este e outros passeios pela área da hidrelétrica estão no site da Itaipu Binacional.
*A repórter viajou a convite da Itaipu Binacional