Já em cartaz em cinemas: “Sol de Inverno”, o Poder da Sutileza

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Por Celso Sabadin, jornalista, cineasta, crítico de cinema, Planeta Tela

Estático, um garoto num campo de beisebol olha para cima, enquanto o jogo se desenrola. Ouve-se o alarido dos demais jogadores, mas o rapaz nem se mexe. Motivo: ele está totalmente fascinado com os pequenos, rarefeitos e primeiros flocos de neve do inverno que se aproxima.




Assim começa “Sol de Inverno”, coprodução franco-nipônica já candidata a figurar nas famosas listas dos melhores filmes do ano. Mas já? Ansiedades? Não: qualidades. E das mais raras.

Segundo longa do diretor japonês Hiroshi Okuyama – que aqui também assina o roteiro – “Sol de Inverno” é um deleitante oásis de calmaria, paz, poesia e sensibilidade num mercado cinematográfico cada vez mais contaminado por malabarismos visuais, maneirismos de todos os tipos, trilhas musicais ensurdecedoras e espetacularizações gratuitas.

A trama em si não poderia ser mais simples. No momento em que a prática veranil do beisebol é substituída pela invernal do hóquei, Takuya (Keitatsu Koshiyama), o rapaz da primeira cena, medíocre em ambos os esportes, se apaixona pela elegante Sakura (Kiara Takanashi) ao vê-la praticar patinação artística.

Para tentar atrair a atenção da moça, ele se aventura pelos caminhos da patinação, com resultados obviamente desastrosos. Não é apenas a estação do ano que está mudando. Trata-se de um puro, juvenil e arrebatador caso de amor à primeira vista que vai precisar de um cupido para ter continuidade. E ele surge na figura de Hisashi (Sôsuke Ikematsu), o treinador de Sakura.

Sei que este tipo de sinopse poderá afugentar quem prefere filmes, digamos, mais “sérios”. Mas não se deixem assustar. “Sol de Inverno” é encantador exatamente pelo enorme talento que demonstra em transformar a singeleza da história em obra cinematográfica de grande valor, na qual as imagens falam mais alto que as palavras (outra característica, aliás, que o cinema vem perdendo após a popularização dos streamings).

É a partir deste tênue fio narrativo que “Sol de Inverno” vai abordar temas atemporais e universais como crescimento, amadurecimento, acolhimento, intolerância, hipocrisia. Tudo dentro do que há de melhor na tradição do cinema oriental de qualidade, que privilegia olhares, silêncios, texturas e luzes.

É um filme que trafega na contramão da produção recente, ou seja, ele exige a atenção do espectador, na medida em que transmite seus recados através de detalhes e sutilezas. Em outras palavras, é um convite para que apreciemos mais os flocos de neve que os campos de beisebol.

“Sol de Inverno” é o primeiro lançamento da Michiko Filmes, nova distribuidora cinematográfica brasileira comandada por Michel Simões e Chico Fireman, que durante sete anos integraram a equipe do podcast Cinema na Varanda. Que venham mais lançamentos desta qualidade!

Quem dirige

“Sol de Inverno” é segundo longa-metragem de Hiroshi Okuyama, que nasceu em Tóquio, em 1996. Seu primeiro filme, “Jesus”, de 2018, estreou no Festival de San Sebastián, na Espanha, onde ganhou o prêmio principal na seção Novos Diretores. Okuyama tinha 20 anos.

Além de dirigir, Okuyama também escreve seus roteiros, edita e faz a câmera de seus trabalhos. Entre seus dois longas, Okuyama dirigiu os nove episódios de uma minissérie para TV, Makanai: Cozinhando para A Casa Maiko. Mas sua estreia mesmo foi bem antes disso tudo: em 2009, com apenas 13 anos, ele dirigiu o videoclipe Graduationparty!!!!!, que estreou no Festival Internacional de Cinema de Kyoto.

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