Por Alceu Luís Castilho, publicado no Blog do Alceu Castilho –
Em SP, uma mãe recebeu uma pedrada, na altura da criança; outra foi acuada em um supermercado; no Rio, motoqueiro disse que ia dar um tiro na mãe e na bebê
São Paulo teve na semana passada dois casos em que as mães estavam vestidas de vermelho, com bebê no colo, e mesmo assim foram agredidas. Uma delas foi acuada. Outra viu uma pedra ser atirada na altura da criança. No Rio, mais um caso envolvendo a ira criminosa de fascistas. A diferença é que o próprio bebê era quem estava vestido de vermelho.
Dois desses casos foram relatados pela imprensa, mas isoladamente. Um pelo portal R7, outro pelo blog do Luis Nassif. Não se tornaram um tema nacional. O caso da blogueira Rafaela Freitas, em São Paulo, ainda não foi divulgado. Vejamos seu relato:
– Quinta feira,por volta das 13 horas, fui levar meu filho de 3 anos na escola, no Butantã, como de costume. Por acaso eu estava usando uma blusa vermelha. Ao parar no farol ouvi xingamentos, buzinadas e me jogaram uma pedra que pegou na minha perna, na altura da cabeça do meu filho de 3 anos. Assustador, triste e lamentável. A pedra machucou minha perna mas poderia ter acertado meu filho.
Na quarta-feira, foi a vez da blogueira Matê da Luz testemunhar o refúgio de uma mãe com bebê um supermercado. Também em São Paulo. Conforme seu relato reproduzido pelo site do Luis Nassif, ela estava na fila quando a mãe entrou com um bebê de colo:
– Vestia uma camiseta vermelha. O bebê chorava muito. Ela pediu abrigo ao segurança do mercado: “Moço, estou sendo praticamente apedrejada na rua, estou com medo por causa do nenê’”. A moça atrás de Matê decidiu dar sua opinião: “Claro, né, ela é louca, petista andando pela rua com nenê de colo, tá pedindo pra apanhar”.
O terceiro caso ocorreu no Rio, na sexta-feira. Foi relatado pelo portal R7: De roupinha vermelha, bebê e mãe sofrem agressão: “Disse que ia me dar um tiro”. Aconteceu com a fotógrafa Monique Ranauro, de 29 anos, que saiu de casa para comprar comida. A filha de cinco meses estava com um macacãozinho vermelho da personagem Minnie, da Disney. Dormia:
– Achei que fosse um assalto. O homem se aproximou de nós com a moto e, sem tirar o capacete, me chamou de puta. Disse que se eu não fosse pra casa ele iria dar tiro em mim e na minha filha. Saí apressada, trêmula, ouvindo ele me chamar de desgraçada por vestir a criança de vermelho.
Com medo, Monique pressionou a criança no peito. Como ela estava com um colar, o bebê ficou com um pequeno machucado na testa. Ao relatar o caso nas redes sociais, foi ameaçada e criticada. “Senti um medo absurdo e ainda sinto. Meu marido e eu estamos preocupados, com medo. Mas nós não fizemos absolutamente nada. Estamos vivendo numa sociedade que distorce o certo e o coloca como o errado”.
Esses são três casos conhecidos envolvendo bebês. No Rio, sobrou também para uma cachorrinha, de acordo com o colunista Ancelmo Gois, de O Globo: Cachorrinha é chamada de petista e hostilizada por estar com… lencinho vermelho.
Este é o relato do jornalista:
– Quinta, um dia antes das manifestações pró-Lula e Dilma, uma carioca levou esta cachorrinha vira-lata com um lencinho vermelho no pescoço, na pracinha do Bairro Peixoto, no Rio. Foi hostilizada aos gritos de petralha.
MAIS DOIS CASOS
Após o fechamento do texto, inicialmente com três relatos, fiquei sabendo de mais dois casos envolvendo mães com bebês, ambos em São Paulo. Como aguardo autorização para divulgar o nome de uma das vítimas, um dos relatos segue, por enquanto, de forma anônima.
É o relato da mãe de uma vítima, publicado no Facebook:
– Minha filha vinha vindo para minha casa, moramos a um quarteirão de distância, com uma camiseta vermelha, empurrando o carrinho com minha neta de 2 anos. Foi xingada e ameaçada. Chegou aqui tremendo. Se não estivesse com a bebê, poderia correr. Mas estava indefesa. São covardes, por isso agridem mães com bebês.
A professora Dani Takara, moradora da Santa Cecília, divulgou sua história na sexta-feira:
– Saí pra comprar almoço. Tô com um vestido azul com bolinhas brancas, uma fofura. Resolvi ir com o meu Wrap dryfit porque faz tempo que eu não uso e queria ver como estava a sustentação dele com a Nina, agora que ela tem quase 8 quilos. Quando eu tava saindo do restaurante, ouvi lá de dentro (pasmem!) uma voz de ômi dizendo: “Conselho tutelar devia tirar teu filho de você, petista vagabunda!”. Olhei ao redor e pensei: “Nossa, pra quem esse idiota falou isso?” Foi então que percebi que meu Wrap é vermelho…