Por Pedro Amorim, músico bandolinista, professor da Escola Portátil de Música
A Elizeth eu já conhecia, de outros discos, sabia de cor as interpretações, a voz dela sempre fez parte do meio-ambiente, da biodiversidade do nosso lar:
“Escuta, Pedrinho, esse é o Jacob do Bandolim, um dos maiores músicos do mundo!”
Papo do meu pai, e eu nem sabia como era o bandolim, quantas cordas, que formato, mas era um som deslumbrante, lado a lado ali com a voz da Divina. E tome “Barracão”, “Noites Cariocas”, “Feitio de Oração”, “Murmurando”…
Passei muitos dias sem ouvir outra coisa e aquele solo dele no Barracão fez um estrago, causou uma avaria qualquer na minha alma que nunca mais pôde ser consertada.
Comecei a tocar o bandolim bem mais tarde, tirando de ouvido as gravações do Jacob – com o Época de Ouro, com o Regional do Canhoto, com orquestras – e, ao assistir apresentações de outros bandolinistas, ou frequentando as rodas de choro, sempre percebi a presença do Jacob, pela influência que, de uma forma ou de outra, exerce sobre todos que se aproximam deste instrumento.
Ele é a referência, a escola, o estilista inconfundível e inimitável. Jacob está para o bandolim assim como o Dino está para o violão de 7 cordas e o Canhoto para o cavaquinho: quem quiser aprender, tem que ouvi-lo, e com muita atenção; a sonoridade, os detalhes da interpretação, o preciosismo, a malandragem, o lirismo, a brasilidade que o torna tão internacional.
Conheço bandolinistas franceses, norte-americanos, japoneses, todos admiradores do Jacob e confessadamente influenciados por ele.
Quando falo em influências, não tem absolutamente nada a ver com imitação. Refiro-me aos colegas que desenvolvem sua arte com personalidade, que perceberam que a referência Jacob do Bandolim só pode ser importante quando faz soar o instrumento que cada um traz dentro de si.
Desta forma, Jacob vai se perpetuando na renovação; ele que foi sempre original, inovador, criativo, vai continuar inflamando o talento com a centelha viva da sua sensibilidade.