Liderar blocos de oposição sem possuir mandato exige capacidade negociadora, requer habilidade de negociação, diálogo e, mais que tudo, carisma
Por Paulo Henrique Arantes, compartilhado do Brasil 247
Analistas projetam o futuro de Jair e do jairismo. O ex-presidente inelegível portaria ou não o condão de moldar as performances da oposição em desconstrução ao governo Lula? É claro que não, e as razões são óbvias.
Nunca, em tempo algum, Jair demonstrou talento gregário. Como presidente, e antes como deputado, foi um desagregador, afastando aliados dia sim, outro também, levando correligionários a não apenas abandonar seu barco, mas a sair atirando contra ele, por traidor. Só a caneta presidencial sustentou asseclas em torno de seus delírios.
O êxodo de jairistas começou com Gustavo Bebianno, passou pelo general Santos Cruz, chegou a Alexandre Frota, alcançou Sérgio Moro e encontrou em Abraham Weintraub o new desafeto mais boquirroto. Há muitos outros.
O acidente histórico que alçou Jair ao Planalto não pode ser confundido com traquejo político do dito cujo. O movimento jurídico e midiático de criminalização da política, de duplo ápice – a prisão de Lula e o impeachment de Dilma Rousseff –, não encontrou ninguém melhor que o capitão para lhe dar seguimento. Daí a catástrofe e o arrependimento de alguns.
Liderar blocos de oposição sem possuir mandato exige capacidade negociadora, requer habilidade de negociação, diálogo e, mais que tudo, carisma. O suposto carisma de Jair, mito para meia dúzia de idiotas, é às avessas: sua deficiência cognitiva e sua precariedade comunicativa influenciam, na verdade, pouca gente além dos espíritos milicianos. Em regra, afasta.
Os partidos que se propõem a fazer oposição cerrada ao governo Lula preferirão um candidato confiável, que não crie ele próprio problemas a cada vez que abrir a boca. O “capital político” de Jair é balela. Enquanto seus quatro anos de promoção de horror ainda estão quentes, é natural que sua figura mantenha certo peso, mas é questão de tempo – não se pode esquecer de que os desfechos criminais ainda estão por vir.
Os 58 milhões de votos que Jair obteve em 2022 são voláteis e circunstanciais – qualquer nome anti-PT chegaria a essa marca num pleito “polarizado” (perdão).
Aconselhar políticos não é hábito saudável a jornalistas, tampouco aconselhar-se com eles. Porém, o momento revela-se irresistível: a direita brasileira tem uma oportunidade imperdível de se afirmar civilizada, lançando candidatos do espectro conservador mas que, nem por isso, sejam milicianos, negacionistas ou golpistas.