Por Joaquim de Carvalho, Diário do Centro do Mundo –
Esta reportagem é fruto de projeto de crowdfunding do DCM
O avião utilizado pelo prefeito João Doria para ir hoje a Palmas, no Tocantins, pertence ao escritório de Nélson Willians, advogado com ligações muito próximas de Michel Temer e o PMDB.
O escritório de Nélson Willians foi contratado, no ano passado, pela diretoria do Porto de Santos, antigo feudo político de Temer, para arbitrar uma disputa com a empresa Libra, uma das arrendatárias do porto para operações de contêineres, ao qual a empresa estaria devendo R$ 2,3 bilhões.
Não houve licitação para a escolha do escritório e sua contratação chamou a atenção também porque a Libra tem ligações com Temer.
Seus sócios doaram R$ 1 milhão para sua campanha a vice-presidente, em 2014. Pelo de arbitragem, o escritório pode receber R$ 23 milhões, 1% do valor da dívida.
A vinculação do escritório de Nélson Willians com os interesses de Temer também passa pelo processo de impeachment que tirou Dilma Rousseff do Palácio do Planalto.
Dois sócios de Nélson Willians prepararam o pedido de impeachment de Dilma Rousseff que Alexandre Frota levou a Brasília em 2015 – Cunha recebeu, mas colocou para votar outro pedido, o de Janaína Pachoal.
O avião do escritório de Nélson Willians também levou Frota para participar das manifestações pró-impeachment de Dilma, no dia da votação.
No governo Temer, além do contrato milionário com o Porto de Santos, Nélson Willians assinou contrato com o Banco do Brasil para administrar quase metade da sua carteira de processos na Justiça, depois de uma disputa rumorosa, que começou em 2014 e foi parar na polícia e no TCU, com a acusação de que o escritório teria cometido fraude para somar pontos na licitação.
Em maio, outro avião do escritório, o Citation PR-ARA, foi usado para levar Doria a Pirenópolis, em Goiás, no casamento da filha do governador Marconi Perillo. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, acompanhou o prefeito.
Procurado pelo DCM, Nélson Willians confirmou que cedeu o avião a Doria, de quem se diz advogado.
“Eu sou advogado e amigo dele há muito tempo e ele estava impossibilitado de usar o avião dele hoje. Em emprestei e agora, quando eu precisar, uso o avião dele, que é maior. A gente faz um banco de horas, isso é comum na aviação”, afirmou.
O senhor é advogado de João Doria em que casos? “Sabe aquele de Campos de Jordão (invasão de área pública)? Eu sou advogado dele nesse processo. Também em processos trabalhistas, e em processos dele e da Bia (mulher de Doria)”, disse.
Nélson Willians frequenta os eventos do grupo Lide, onde foi fotografado ao lado de Doria e do juiz Sérgio Moro.
Um voo de ida e volta entre São Paulo e Palmas em táxi aéreo está cotado a R$ 43 mil reais (este é o preço do frete em um King Air, inferior ao Learjet, modelo usado na viagem).
O compromisso de Doria em Palmas não era de interesse da prefeitura. Ele foi para lá a convite do senador tucano Ataídes Oliveira, para participarem juntos do 2.º Encontro Estadual do PSDB do Tocantins.
Em Palmas, Doria foi recebido por um grupo de pessoas com camisetas anunciado a candidatura dele a presidente. Em ruas da cidade, foram vistas faixas com mensagens como “Tocantins quer Doria presidente” e “O Brasil precisa de gestão”.
A visita a Palmas faz parte de um circuito de viagens do prefeito. Ele também vai ao Recife (PE), Vila Velha (ES), Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Fortaleza (CE).
O que ele vai fazer nesses lugares? Campanha, claro — embora diga que o motivo é outro –, no avião do amigo que conseguiu bons negócios no governo Temer. Um sem licitação e outro com uma licitação em que o escritório de Nélson Willians foi acusado de fraude.