Por Luiza Villaméa, publicado em Página B –
Velocista americano que derrubou a tese da superioridade ariana defendida por Hitler foi discriminado dentro de casa
Do alto de uma tribuna especial, o líder nazista Adolf Hitler comemorava as vitórias alemãs nas Olimpíadas de Berlim de forma quase histérica. Era agosto de 1936. Para evitar um boicote internacional, nos meses anteriores ele havia ordenado uma faxina que eliminou dos espaços públicos todas as referências racistas do regime. Não passava de jogo para a plateia.
Na verdade, Hitler planejava acompanhar a consagração de seu regime no estádio olímpico de Berlim. Cada vitória alemã o aproximava da meta. Até surgir o americano Jesse Owens, o velocista negro que arrebanhou quatro medalhas de ouro naqueles Jogos. Ovacionado no estádio, Owens logo se transformou em símbolo internacional da luta contra o racismo.
Dali em diante, também conviveu com a lenda de que Hitler teria se recusado a cumprimentá-lo pela vitória. Na verdade, o líder nazista já havia parado de parabenizar os atletas quando Owen disparou rumo à consagração olímpica. Hitler mudou de atitude pouco antes de outro atleta negro, o americano Cornelius Johnson, ganhar o ouro no salto em altura.
O fato de ter se tornado um símbolo mundial do combate ao racismo não amenizou em nada o cotidiano de Owens nos Estados Unidos. Para participar de uma recepção em sua própria homenagem no Waldorf Astoria Hotel, em Nova York, teve de subir pelo elevador de serviço, como conta na autobiografia “The Jesse Owens Story”, lembrando que, naqueles tempos, negros não podiam usar elevadores sociais.
“Quando eu voltei para o meu país, com todas aquelas histórias sobre Hitler, eu não podia andar na parte da frente do ônibus, tinha que ir para a parte de trás”, escreveu Owens. “Eu não fui convidado para trocar um aperto de mão com Hitler, mas eu também não fui convidado para cumprimentar o presidente na Casa Branca”, completou, referindo-se a Franklin Delano Roosevelt.