João Palma pelo Facebook

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UM NOVO PERSONAGEM ENTRA EM CENA?

O clima de sabado na região da paulista, em sampa, definitivamente não era bom.




Uma semana antes, véspera da eleição o pedaço augusta-conjunto nacional- center 3-frei caneca era uma área em disputa. De um lado, em harmonia com a fauna e flora locais, uma militância na maioria jovem, vinda de coletivos mais diversos, de esquerda, destacando-se petistas, militantes do psol ou que votaram em Luciana Genro, grupos de amigos, participantes das passeatas de junho, artistas de rua, porteiros, intelectuais, skatistas, comerciários, bancários, aposentados, negros, nordestinos e ciclistas, mais familias da periferia, alguns punks – aliados antifascistas – e um notável apoio da ampla comunidade lgbt local, que fazia a diferença.

Todos com adesivos da Dilma13 nas roupas, alguns com bandeiras, muita gente de vermelho, espalhados, formavam um coletivo alegre, solidário e militante. Como nos velhos tempos, mas nos novos. Bares e padarias do pedaço que o digam.

De outro lado, grupos com colantes Aécio45 também passeavam e militavam por alí, sem maiores problemas, à excessão de algumas caras feias e provocações, muitas vezes, grosseiras, supremacistas, racistas, sexistas e ”antipetistas”, além de palavrões diversos, vindas especialmente de SUV’s e outros carrões que, covardes e ininputáveis, podiam arrancar cantando pneus. É importante notar que toda e qualquer provocação mais pesada vinha desse setor, motorizado, ostensivo.

Alguns grupos pró-Aécio eram evidentemente pagos, outros não. E não eram poucos. Na véspera da eleição, a infame capa da ex-revista veja andou sendo panfletada por ali, e era mostrada (aos gritos) por gente motorizada, às vezes de modo ameaçador. A campanha tucana e do ptb – vista ali uniformizada com camisetas de evento do governo do estado, fazia panfletagens intermitentes. Uma semana antes da eleição foi vista ali uma inusitada concentração de homens de bens em campanha pró-Aécio, cerca de cinquenta, todos de terno escuro e pele branca, na hora do almoço, muito animados, adesivados e intolerantes a “petistas”, pobres e vagabundos, como diziam dos que recebiam recursos do bolsa-família, do pró-uni ou qualquer outro programa social.

Com razão. Afinal, com tantos pobres no aeroporto, acabou o glamour mesmo da viagem internacional, com essa nova classe trabalhadora ameaçando seus privilégios de classe. Os bem apessoados tucanos distribuiram muitos colantes, mesmo a gente comum, na calçada e na rua, em um trabalho sério e articulado e, assim como chegaram, sumiram … (tiime is money?)
Até à véspera da eleição, desde os atos da PUC e de Itaquera, a direita perdia espaço e a esquerda ganhava mais as ruas. Cada dia parecia crucial. No sabado véspera da eleição o pessoal com Dilma conseguiu se impor no pedaço. E no domingo – mais uma vez na paulista, a festa da vitória, esse grande e plural coletivo explode em festa. Um pesadelo para a direita e os ex-felizes tucanos.

PRIMEIRO TEMPO

Há uma dificuldade ainda não resolvida em se entender o legado, ou mesmo o que foram, as manifestações de junho de 2013. Em meio a elas, certa noite, a esquerda foi atacada, teve suas bandeiras rasgadas e se viu em minoria frente à truculência de uma direita que ali também estava, ao vivo e a cores, com maior força física. Uma direita articulada em “redes sociais”, apoiada por black blocs infiltrados de P2’s, com apoio de skinheads, malhados e carecas do ABC, nesse momento com apoio do PIG e outros grupos fascistas e nacionalistas de vários tipos, organizados pela internet, mas não só. A direita mostrava sua cara, com roupas novas e mostrou que não estava ali para brincadeiras.

OS 3 DO PIG E O LOBO MAU

Ano e meio depois, sabado passado, junto com o ex- Lobão, cerca de 2 mil pessoas desfilaram na paulista pedindo golpe militar, anulação da eleição perdida, impeachment da presidenta eleita e o fim do PT, entre outras coisas. O relato de quem viu é que o clima estava barra pesada. Mas que, por falta de base social desse evento, por conta do que foi e de quem lá estava, um jornal sério – se existisse – ficaria em dúvida se o noticiaria na seção de humor ou na seção policial.
De todo modo, há aqui uma novidade importante.

A direita saiu do armário e se expôs. E mostrou que é perigosa. Assumiu, sem pruridos, todo seu autoritarismo, arrogância e desprezo não só à democracia, mas especialmente aos pobres, negros, nordestinos e marginalizados. E sua aversão a todos que não concordam consigo, em especial às esquerdas e aos diferentes, aos gays, lésbicas e travestis, às putas e aos ateus, ao povo dos terreiros, aos petistas, socialistas, comunistas e anarquistas, às feministas, às mulheres , partidos, sindicatos e movimentos sociais, enfim – a todos que compõem a classe trabalhadora – o povo brasileiro. Que, com Dilma, ganharam legitimamente as eleições, em busca de um futuro melhor.
Essa polarização é concreta, e continua em curso. Não há como evitá-la fugindo. Foi a eleição mais politizada – e politizadora – desde o fim da ditadura. Uma de suas principais novidades – é a isso que queremos chamar atenção – é a entrada em cena de um velho personagem, cuja novidade é que agora passa a agir sem intermediários: a direita, nas ruas.
Não se sabe se, a exemplo de outras partes do mundo, veio para ficar, ou se é um fenômeno transitório. Parece que não. No Brasil e na América Latina ela vem, sucessivamente perdendo eleições populares. E perigosamente, vem perdendo também a paciência. Percebe estar em risco uma herança de 500 anos e o poder da casa-grande. Apesar dos grandes poderes que ainda detém na mídia, no legislativo e no judiciário. Poder insidioso, que penetra no cotidiano de todos, e tenta capturar hábitos, corpos e mentes. Exigindo um enfrentamento diferente daquele do século passado.

O PRINCÍPIO DA CONTRADIÇÃO

É interessante notar que a Direita, pelo perigo anti-social que representa, acabou por unir e mobilizar as esquerdas, chamando assim a esse amplo e diverso conjunto de coletivos e indivíduos, no qual se destacam os jovens e os militantes da periferia, representando ampla base popular. Na campanha presidencial percebeu-se a força e a importância dessa unidade, e sua criatividade.

Reside aí a aposta de que são os movimentos sociais, hoje, os portadores das melhores e mais intensas energias emancipatórias da sociedade, mostrando a todos – em especial a si próprios – que uma outra sociedade (ainda) é possível.

Marilena Chauí, tentando compreender a vitória de Alckmin propõe um estudo por junta de especialistas. Mais uma vez acerta. Sugiro que sejam incorporados psicólogos e legistas. É necessário, mais do que nunca, compreender a direita e seus mecanismos de dominação. A nova direita, que mostra a cara e vai para a rua.

A derrota do decreto da política nacional de participação popular na câmara, dois dias depois da eleição, ainda que provisória, sinaliza os tempos que virão. Só com muita unidade das esquerdas e mobilização popular será possível avançar – se realmente quisermos conquistar a reforma política e o controle público da mídia. O resto também.

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