Da linha do tempo de Jorge Barros
De Carlos Bravo Villalba
Imagine só
Se a criança morta na praia não fosse síria
Se fosse francesa
Se fosse alemã
Se fosse inglesa
Se fosse sua filha
Imagine só
Se não fosse em Osasco a chacina de 19 pessoas
Se fosse nos Jardins
No Itaim
Na Barra
Na Lagoa
Imagine só
Se a prefeita louca não tivesse desviado verba de merenda
Mas da sua
Tão esperada
Restituição
Do imposto de renda
Imagine só
Se navios naufragados não transportassem africanos
Mas belos turistas
Brancos
De olhos claros
Norte americanos
Imagine só
Se a cabeça do mundo não fosse tão doente
E se fronteiras e dinheiro
Servissem para
Receber e salvar
Gente
Imagine só
Se a memória do mundo não fosse tão seletiva
E se gente pobre
Morta
Valesse tanto quanto
Gente rica
Viva
– Ruth Manus, n’O Estadão