Publicado em Viomundo –
Numa reportagem sobre a delação do ex-executivo da Odebrecht Henrique Valladares, o Jornal Nacional omitiu trecho em que ele narra ter testemunhado suposta “reunião” do agora presidente do PSDB, Aécio Neves, com o empresário Alexandre Accioly e o colunista Diogo Mainardi, ex-Veja, hoje no site Antagonista, a quem Valladares se refere como “aquele do Manhattan Connection“, programa da GloboNews, do Grupo Globo.
Foi por acaso, no restaurante Gero do Rio de Janeiro, onde foi com a esposa, que Valladares descobriu que Aécio e Accioly eram amigos. No vídeo (ver acima), é ele quem caracteriza o que viu na mesa de Aécio, Accioly e Mainardi como “reunião”, embora nada diga sobre o que teria sido tratado ali.
Mais tarde, Valladares recebeu de Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas e homem próximo do senador mineiro, um papel pedindo que um dos pagamentos a Aécio fosse feito em nome de Accioly, em Singapura.
Numa troca de acusações com a revista Fórum, que noticiou a delação, Mainardi disse que foi apenas um encontro “casual” e se referiu ao editor Renato Rovai como “criminoso”, “bandido” e “safado” por supor que algo de ilegal tenha sido tratado no encontro.
No vídeo o delator diz que seu superior Marcelo Odebrecht tinha fechado acordo para pagamento de R$ 50 milhões a Aécio Neves “por fora” antes da construção da usina hidrelétrica de Jirau, em Rondônia.
A contrapartida: o governador de Minas Gerais atuaria de forma a não atrapalhar o negócio da Odebrecht, já que a empresa estatal de energia mineira Cemig também estava envolvida no projeto.
“Os pagamentos nesse caso, ao contrário da maioria dos outros, eram feitos no Exterior”, explicou.
Embora tenha tratado da denúncia em longa reportagem, o Jornal Nacional escolheu deixar de fora a menção à reunião que, segundo o delator, ele testemunhou no Rio. Como Mainardi trabalha em um programa da emissora, o mais justo — inclusive com o colunista — teria sido exibir o conteúdo e permitir que ele se explicasse.
Mainardi, quando ainda trabalhava na revista Veja, denunciou o colega Franklin Martins, então comentarista político da Globo.
Quem acompanhou o caso de perto nos bastidores da emissora diz que foi um dos motivos para a demissão de Franklin por Ali Kamel, que ascendeu na emissora para impor linha editorial claramente favorável aos negócios e interesses dos herdeiros de Roberto Marinho — críticas sempre muito contundentes ao PT, jamais repetidas quando se tratava do PSDB.
Hoje, Kamel é o homem forte do jornalismo da Globo.
Recentemente, o Blog da Cidadania revelou que foi a empresa do marqueteiro de Aécio Neves, Paulo Vasconcelos, quem concebeu o site Antagonista, de Mainardi. Repasses que beneficiavam Aécio também teriam sido feitos através de negócios de Vasconcelos, segundo as delações.
Num deles, a Odebrecht firmou um contrato fictício com a PVR Marketing e Propaganda Ltda. para um projeto publicitário cujo objetivo seria aproximar o governo do povo de Angola. Foram R$ 3 milhões que na verdade beneficiaram a campanha presidencial de Aécio em 2014.
Derrotado, o senador tucano assumiu a presidência do PSDB e passou a articular nos bastidores o golpe juridico-midiático-parlamentar contra Dilma Rousseff, do qual a Globo foi peça-chave.
A quebra do sigilo bancário da Odebrecht e a própria colaboração da empresa poderão, agora, permitir seguir o fluxo do dinheiro e confirmar se houve mais gente, além de Aécio, a se beneficiar direta ou indiretamente da propina.