Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Depois ainda tem gente que tem dúvidas sobre a diferença entre o jornalismo praticado pelo oligopóplio familiar e o que é feito pelos blogues progressistas ou “sujos” (como os conservadores gostam de denominar). Um exemplo acabado: jovem que atropelou três pessoas e fugiu do local, em Florianópolis, é o mesmo que estuprou com outros amigos uma garota de 13 anos em 2010. Se você ler o Estadão ou o Diário Catarinense, jamais saberá que este jovem é o mesmo que tinha estuprado a garota há sete anos. Saberá que o seu nome é Sérgio Orlandini Sirotsky, mas não será informado que este vem a ser filho de outro Sérgio, um diretor da RBS, a maior emissora de televisão do Sul do Brasil, afiliada à Rede Globo. Agora, se você ler o Diário do Centro do Mundo ou o Brasil 247 (que reproduziu o texto do DCM) receberá as informações corretas, que um jornalista que se preze precisa repassar.
O Diário Catarinense, então, nem pode dizer está mal informado, que não soube associar o sobrenome Sirotsky ao dos donos da RBS, pois o jornal pertence ao grupo (então é isso?). E o Estadão, bem o Estadão….
Os títulos das reportagens já deixam claro sobre quem tira o corpo dos endinheirados quando se trata de crimes:
Estadão: “Homem atropela 3 em Florianópolis e foge sem prestar socorro”;
Diário Catarinense: “Identificado motorista que atropelou três pessoas em Jurerê neste domingo, em Florianópolis”;
Diário do Centro do Mundo: “Filho de diretor da RBS que estuprou adolescente em 2010 atropela três pessoas em Florianópolis”;
Brasil 247: “Filho de diretor da RBS que estuprou adolescente em 2010 atropela três pessoas em Florianópolis”
Hoje, 08 de agosto, Rafael Braga, jovem, negro, morador de rua teve a pena de 11 anos e três meses mantidas por três desembargadores de Justiça no Rio. Rafael foi preso em 2013, numa manifestação, carregando uma garrafa de Pinho-Sol. Depois foi solto com tornozeleira, mas preso novamente. Desta vez acusado de andar com nove gramas de maconha e quase mesmo peso em cocaína. Rafael alega que os policias, únicas testemunhas validadas pela Justiça, plantaram a droga em sua mochila. Outro dia, Breno Fernando Solo Borges, que foi preso em abril deste ano com130 quilos de maconha, centenas de munições de fuzil e uma pistola nove milímetros foi solto. Breno é filho da desembargadora Tânia Garcia, que preside o Tribunal Regional Eleitoral e faz parte do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
Foram colocados num prato da balança do judiciário as nove gramas de maconha e cocaína e o Pinho-Sol de Rafael Braga e no outro, os 130 quilos de maconha, centenas de munições de fuzil e um pistola nove milímetros de Breno Fernando. Já está escrito acima para que lado a balança da justiça pendeu.
A balança da justiça e a do jornalismo praticado pelas grandes empresas familiares do Brasil é a mesma e sempre penderá para um lado. Todos sabemos qual. Será que um dia isso será notícia?
Abaixo, os links das reportagens:
Filho de diretor da RBS que estuprou adolescente em 2010 atropela três pessoas em Florianópolis