Projeto independente já atendeu mais de 88 mil mulheres com inteligência artificial e suporte humano, oferecendo informações seguras sobre programas como Bolsa Família
Por Giovanne Ramos, compartilhado de Alma Preta
na foto: Avatar da assistente virtual Ju do Bolsa.
Lançada em 2024, a Ju do Bolsa se consolidou como a primeira influenciadora digital virtual com foco em acesso à informação e defesa das políticas sociais. A assistente virtual tem como público-alvo mulheres beneficiárias de programas como o Bolsa Família, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o Auxílio Gás e o Pé-de-Meia.
O projeto nasceu da urgência em enfrentar a desinformação sobre programas sociais, especialmente o Bolsa Família, um dos mais afetados por fake news, além de, também, facilitar o acesso às informações e esclarecer dúvidas sobre os benefícios. A Ju atua a partir de uma inteligência artificial (IA) conectada a um banco de dados próprio, atualizado e verificado por uma equipe multidisciplinar. Com isso, garante informações seguras e acessíveis às beneficiárias.
Com mais de 88 mil mulheres atendidas diretamente, mais de 29 milhões de pessoas impactadas por seus conteúdos nas redes sociais e mais de 97 mil conversas registradas, a Ju também mantém uma comunidade ativa de mais de 16 mil membros no WhatsApp e Facebook. O número de seguidores ultrapassa 65 mil.
Contato humanizado que vai além da resposta automática
O funcionamento começa com o atendimento da assistente virtual, baseada em IA, e, quando necessário, passa para uma equipe de especialistas formada por assistentes sociais, comunicadoras, educadoras populares, cientistas políticas e pesquisadoras.
“Existe sim uma equipe por trás do atendimento humanizado, com pessoas de diferentes formações, e que inclusive se auxiliam nos atendimentos”, afirma a equipe responsável pelo projeto, em entrevista à Alma Preta.
A proposta se diferencia dos canais oficiais e de outros serviços de atendimento por sua linguagem simples e interface descomplicada. A proposta é criar uma experiência cidadã, promovendo acesso pleno aos direitos sociais.
“A Ju apresenta um mosaico de políticas sociais, oportunizando uma experiência cidadã e fruição mais plena dos direitos sociais e políticas públicas, sobretudo, de transferência de renda”, afirmam as responsáveis pela iniciativa.
Para os desenvolvedores, o atendimento humano é uma das formas de acolher e deixar ainda mais acessíveis as informações públicas sobre os programas e direitos sociais, mas ressaltam que a plataforma não substitui em nada a rede socioassistencial.
Atendimento centrado em raça e gênero
Duas mulheres negras, uma de Alagoinhas (BA) e outra do Rio de Janeiro (RJ), relataram suas experiências com a Ju. A primeira conheceu a ferramenta pelo Facebook. “Antes eu tirava dúvidas vendo vídeos no TikTok ou Instagram. A Ju explica de forma simples, acolhedora e com respeito”, contou.
Beneficiária do Bolsa Família desde 2015, ela já recebeu informações incorretas nas redes sociais e recorreu à Ju para obter dados corretos. “Confio sempre e recomendo.”
A segunda usuária, inscrita no programa Bolsa Família há quase 10 anos, descobriu a assistente quando buscava ajuda para uma filha que teve o Bolsa Família bloqueado. “A Ju é muito eficiente e explica com clareza. Nunca recebi nada errado dela. É uma fonte segura”, afirmou.
A maioria das pessoas atendidas pela Ju são mulheres negras. Por isso, os atendimentos são pensados a partir de uma abordagem interseccional. “Esse fato exige da equipe do Projeto compreensão acerca do cenário contemporâneo das relações raciais e de gênero em nossa sociedade para ofertar acolhimento respeitoso e atendimento individual à luz dessas identidades”, aponta a equipe.
Próximos passos e fortalecimento da rede Ju do Bolsa
O projeto Ju do Bolsa está construindo uma rede de “Amizades da Ju”, com o objetivo de firmar parcerias com organizações da sociedade civil que atuam no campo da incidência política e defesa das políticas sociais, bem como com as entidades que apostam na organização política e mobilização comunitária para fortalecimento dos territórios.
“Essas visões, experiências e repertórios diversos, quando combinados, garantirão novas aprendizagens para a ‘Ju’. E isso desembocará na ampliação de sua utilidade e relevância para todas as pessoas assistidas: beneficiárias, ativistas, pesquisadores ou profissionais que atuam no campo das políticas públicas sociais”, explica a equipe.
Entre os objetivos futuros está a produção de currículos formativos sobre políticas sociais voltados à influenciadores das periferias, além do investimento contínuo na criação de conteúdos populares que afirmem direitos.
A equipe também pretende sistematizar as principais demandas apresentadas à Ju e encaminhá-las ao poder público, a fim de contribuir com o aperfeiçoamento do acompanhamento, monitoramento, implantação e avaliação das políticas públicas, reconhecendo o protagonismo das pessoas beneficiárias.
O projeto é visto como uma iniciativa de longo prazo. A meta é expandir o serviço para todo o Brasil e aumentar a base de dados da assistente, que já cobre todos os programas do CadÚnico e o Pé-de-Meia, com previsão de incluir novas políticas sociais para torná-las mais compreensíveis e acessíveis.