Por Juca Kfouri, jornalista, UOL esporte –
A cidade de São Paulo passou a ser pensada como uma cidade-empresa, que precisa dar lucro, cujos bairros são vistos como unidades de negócio, onde vivem consumidores, não cidadãos.
À melhoria de cada região corresponde o êxodo de seus moradores menos favorecidos para a periferia da cidade.
E onde houver aparelhos públicos encravados em bairros chiques, como o estádio do Pacaembu e o ginásio do Ibirapuera, a sanha privativista prevalece.
Assim foi com o Pacaembu, assim será com o Ibirapuera, que acaba de ver negada, por 16 a 8, o tombamento de seu parque esportivo pelo Condephaat, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico.
Decisão anunciada hoje por um colegiado, tomado por indicados do governador e com redução dos assentos da universidade, apesar do irretocável parecer a favor do tombamento do Arquiteto Urbanista, Mestre em História e Doutor em História da Arquitetura, e professor de Projeto e História da Arquitetura da Universidade de São Paulo / Campus São Carlos, Renato Anelli.
Cada vez mais os conselhos deixam de cumprir o papel de defender o interesse da comunidade para servir aos governos de plantão.
Que se danem os motivos que levaram as construções dos equipamentos esportivos. Os interesses negociais prevalecem.
Esporte é saúde, esporte é cultura, esporte é lazer? E daí?
Construções idealizadas por arquitetos mundialmente reconhecidos, e partes marcantes do cenário de São Paulo, desaparecem para dar lugar a mais e mais empreendimentos comerciais.
Na cabeça dessa gente só cabe pensar em dinheiro e a ideia de fazer um shopping center e um hotel na área do ginásio prevaleceu.
Ontem às urnas falaram em São Paulo e o prefeito eleito declarou que é possível fazer política falando a verdade.
Hoje a cidade saiu do verde e voltou ao amarelo na prevenção ao recrudescimento da pandemia.
Que tanto o governador quanto o prefeito negavam até anteontem.
Se o nome disso não é estelionato eleitoral será preciso inventar outra denominação para tamanho embuste.