A magistrada Monica Ribeiro Teixeira negou pedido do compositor, que processa o filho de Jair Bolsonaro por uso indevido de sua canção Roda Viva em post na internet. Para ela, falta comprovação da autoria. A música está entre as 13 mais regravadas
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“Roda Vida”, no entanto, é uma das obras mais conhecidas de Chico Buarque, composta em 1967 para a peça de teatro homônima, também de sua autoria, de enorme sucesso até hoje
São Paulo – A juíza substituta do 6º Juizado Especial Cível da Comarca da Capital Lagoa, Monica Ribeiro Teixeira, tem dúvidas de que Chico Buarque seja o autor da música Roda Viva. E por isso indeferiu processo do compositor contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente derrotado à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Chico o processou pelo uso indevido da canção em postagem em uma rede social, sem autorização. Na postagem há imagens de bolsonaristas processados por atentado contra a democracia. O objetivo do parlamentar foi indicar que “o Brasil está sob censura”.
A decisão em favor de Eduardo Bolsonaro foi divulgada neste sábado (26) pelo colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo. No argumento da magistrada, inusitado, ela questiona a autoria da obra. Segundo ela, falta comprovação de que a música é mesmo de Chico Buarque.
Uma das obras mais conhecidas
Roda Viva é uma das obras musicais mais conhecidas do artista. Foi composta em 1967 para a peça de teatro homônima, também escrita por Chico. A apresentação estreou no ano seguinte no Rio de Janeiro, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa. Em plena ditadura civil-militar, a montagem também foi exibida em São Paulo, no mesmo ano. Mas foi encerrada com a invasão do Teatro Galpão por membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), como era conhecida a milícia paramilitar de apoio ao regime.
Na ocasião, o elenco e o público foram espancados pela ação dos milicianos. A peça, porém, seguiu rodando pelo país, embora tenha sido impedida pela repressão de ser apresentada em Porto Alegre, em outubro do mesmo ano.
Até hoje, contudo, Roda Viva segue ganhando adaptações e conquistando novos públicos. Neste contexto, conforme destaca a defesa do autor, a música tornou-se símbolo da luta contra o autoritarismo. Além disso, em 2008, Chico também concedeu o uso da canção na vinheta do programa de mesm nome apresentado pela TV Cultura. Mas retirada, anos depois, a pedido do autor, deferido pela própria Justiça.
O advogado de Chico Buarque, João Tancredo, já confirmou que recorreu da nova decisão. A obra musical também está entre as 13 músicas mais regravados ao artista. A informação é do Ecad, a entidade brasileira responsável pela arrecadação e distribuição dos direitos autorais das músicas. Ao todo, Roda Viva tem 67 gravações cadastradas e autorizadas.
O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) chamou a decisão da magistrada de “delírio” e lametou que “negacionismo pega”.