Publicado em Jornal GGN –
É “bobagem” falar em asilo político ao ex-presidente Lula, mesmo diante da possibilidade de uma prisão arbitrária na Lava Jato, disse o advogado Cristiano Zanin Martins, em coletiva de imprensa transmitida pela página oficial do ex-presidente, nesta quarta (16), diretamente de Genebra.
“O ex-presidente não se considera acima da lei, e vai ficar no País para fazer sua defesa, usando de todos os mecanismos nacionais e internacionais, que estão previstos nas leis brasileiras”, disse o defensor.
Zanin disse que, “na prática”, o julgamento de Lula por Sergio Moro começa na próxima semana, com o juiz federal conduzindo audiências que devem repetir o modus operandi da Lava Jato: os depoimentos são gravados e vazados para a imprensa, que fazem edições onde prevalece, na opinião pública, a ideia de que o petista foi beneficiário do esquema de corrupção na Petrobras.
“Temos dificuldade de superar a barreira que setores da imprensa brasileira, que misturam opinião com fatos, acabam impondo”, disse Zanin ao final da coletiva, quando foi questionado sobre o que a sociedade brasileira pode fazer para frear os abusos da Lava Jato contra Lula.
“Seria importante conhecer as peças [do processo] e comunicados que temos divulgado. Estão disponíveis no site e nas páginas [do ex-presidente] do Facebook. Ali está a verdade; ali estão os fatos e provas que temos apresentando frequentemente contra as absurdas das acusações que têm feito contra Lula. O primeiro passo é conhecer e difundir essa verdade.”
Durante a coletiva, os advogados de Lula apresentaram um estudo do Manchetômetro, que foi anexado ao processo que está nas mãos de Moro, mostrando como a mídia tradicional é parcial em relação aos processos do ex-presidente.
A postura dos grandes grupos de comunicação foi alvo central de críticas da defesa, que também levou à ONU o estudo, junto a reclamações sobre a falta de transparência e o uso da liberdade de expressão e imprensa para disseminar versões distorcidas e sempre negativas do processo.
Geoffrey Robertson, advogado de Lula, especializado em Direitos Humanos, participou da coletiva fazendo um resgaste da trajetória política do ex-presidente, passando por eventos de expressão internacional, como a conquista das Olimpíadas e o papel do Brasil no BRICS.
Ele reforçou a ideia de que o avanço da Lava Jato sobre Lula tem um caráter político que serve aos interesses das elites econômicas.
Segundo ele, Lula tem tido vários aspectos de sua vida pessoal vasculhadas pelas autoridades da Lava Jato há anos e, até agora, nada foi provado contra o petista. Pelo contrário: os procuradores se servem de “convicções” para promover um “trial by media”. Isso com ajuda de Moro, que de maneira inusual, até ajuda a reformular as denúncias falhas do Ministério Público.
Na visão de Robertson, Moro tem dado a benção – quando não, agido por contra própria – a episódios de vazamentos contra Lula e seus familiares. O advogado disse que nenhuma nação civilizada toleraria um juiz com a postura de Moro. Criticou, ainda, a associação dele com a mídia, e a naturalidade com que virou uma espécie de celebridade.
Lula participou do encontro na tarde desta quarta por videoconferência. Ele afirmou que está vivendo um processo político montado pela Polícia Federal, setores do Ministério Público associados a um juiz que assumiu o papel de acusador. Ele também voltou a dizer que a Lava Jato reconhece que hão tem provas, mas convicções.
Nos últimos dias, Moro autorizou o agendamento de várias testemunhas no processo em que Lula é acusado de ser dono oculto de um triplex no Guarujá, que seria uma das regalias que a OAS teria dado ao ex-presidente em troca de favorecimento.
A defesa de Lula protocolou na ONU uma atualização da ação movida contra os abusos da Lava Jato. Os advogados alegam que mesmo diante da primeira denúncia ao Comitê Internacional de Direitos Humanos, a força-tarefa segue massacrando o direito à presunção de inocência de Lula.
Nesta quarta, em editorial chamado “O golpe de Lula da Silva”, o Estadão dá a prisão do ex-presidente como certa e diz que o petista vende um discurso de golpe a líderes mundiais e da América Latina em busca de um teto, em caso de necessidade de pedido de asilo.