Australiano fundou plataforma que expôs documentos de guerras, espionagem, corrupção e violação de direitos humanos praticados pelos norte-americanos e, por isso, se tornou alvo de perseguição
Por Alice Andersen, compartilhado de Fórum
Nesta segunda-feira (24), o jornalista australiano Julian Assange, fundador do WikiLeaks, finalmente conquistou sua liberdade após mais de cinco anos detido na prisão de segurança máxima de Belmarsh, em Londres. Segundo o site do WikiLeaks, Assange já embarcou em um voo para seu país natal, a Austrália.
A libertação foi resultado de um acordo com as autoridades americanas, no qual ele precisou se declarar culpado de acusações relacionadas à revelação de segredos militares dos EUA em troca da liberdade. O acordo põe fim a uma longa batalha judicial.
As primeiras informações, para além daquelas divulgadas pelo WikiLeaks, indicam que Julian Assange precisou se declarar culpado de obter e divulgar ilegalmente material de segurança nacional em troca de sair da prisão britânica. A advogada e companheira do jornalista, Stella Assange, comemorou a libertação de Assange nas redes sociais e agradeceu o apoio de todos. “Palavras não podem expressar nossa imensa gratidão a VOCÊS – sim, VOCÊS, que se mobilizaram durante anos e anos para tornar isso realidade. OBRIGADO. obrigado. OBRIGADO”, escreveu Stella.
Assange, que está com 52 anos, deve comparecer perante um juiz federal em um dos postos avançados mais remotos do Judiciário, o tribunal de Saipan, capital das Ilhas Marianas do Norte. As Ilhas Marianas do Norte são uma comunidade dos Estados Unidos no meio do Oceano Pacífico e próximas da Austrália, terra natal de Assange, para onde ele deve voltar após a concretização do acordo.
Quem é Julian Assange
O jornalista investigativo ganhou fama mundial ao fundar, em 2006, um grupo de ativistas chamado WikiLeaks. A organização divulgou aproximadamente 700 mil documentos confidenciais e militares dos Estados Unidos. O objetivo era promover a transparência e responsabilizar os norte-americanos por atos violentos e contra os direitos humanos.
O WikiLeaks ganhou notoriedade internacional em 2010 com a publicação de uma série de documentos confidenciais dos Estados Unidos, vazados pela analista de inteligência Chelsea Manning. Entre os documentos, estavam telegramas diplomáticos, registros de guerra e vídeos de atrocidades militares.
Após a repercussão mundial das divulgações, Assange se viu alvo de diversas acusações, incluindo espionagem e conspiração. Em 2012, buscando evitar a extradição para os EUA, ele se refugiou na embaixada do Equador em Londres, onde permaneceu por sete anos. Em 2019, o Equador revogou seu asilo, e Assange foi preso pelas autoridades britânicas.
Desde a adolescência, o fundador do WikiLeaks é conhecido por suas habilidades em programação. Em 1995, ele teve seu primeiro confronto com a justiça, sendo acusado por um tribunal australiano de “crimes cibernéticos”. Na época, Assange evitou a prisão ao prometer não reincidir. As acusações indicavam que ele e um amigo, ambos hackers, cometeram “infrações”. Assange foi liberado.
No final dos anos 1990, Assange coescreveu o livro “Underground: Tales of Hacking, Madness and Obsession on the Electronic Frontier” com a pesquisadora e jornalista Suelette Dreyfus. Durante esse período, também cursou matemática e física na Universidade de Melbourne.
Como surgiu o WikiLeaks
Em 2006, surgia a plataforma digital que se tornaria um marco na luta pela transparência e um pesadelo para governos que preferem manter seus segredos sob sete chaves. Operando como uma “caixa de correio morta” – método clássico de espionagem -, o WikiLeaks se tornou um refúgio para ativistas que desejavam vazar documentos sigilosos para o mundo.
Apesar de sua fundação em 2006, foi em 2010 que o WikiLeaks saltou para os holofotes da fama internacional. A plataforma divulgou um vídeo chocante que expunha a brutalidade da guerra no Iraque: um ataque de helicóptero americano em 2007 que resultou na morte de 12 pessoas.
Ainda em 2010, o WikiLeaks expôs ao mundo segredos obscuros das guerras no Iraque e Afeganistão. Através da plataforma, cerca de 490 mil documentos militares dos Estados Unidos, muitos considerados confidenciais ou até mesmo secretos, foram tornados públicos. Esses arquivos continham material chocante: vídeos que revelavam o assassinato de civis e jornalistas, além de abusos de poder por parte de autoridades americanas e de outros países.
Em 2016, o WikiLeaks voltou ao centro das atenções ao divulgar milhares de e-mails da campanha presidencial de Hillary Clinton. Posteriormente, um relatório do Senado dos EUA afirmou que a Rússia utilizou a plataforma para influenciar a eleição de Donald Trump, que classificou o relatório como uma “farsa”. Assange é considerado um ícone da liberdade de imprensa e do jornalismo independente.