Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado
Desde o sábado de carnaval, 01 de março, deixarei de ver fisicamente dois grandes amigos: Rui Xavier e Julio Marques. É muito. Ontem me despedi do grande amigo Rui, que se foi na madrugada de sexta para sábado. Agora, me despeço do Julio Marques, que partiu na noitinha do mesmo sábado.
Despeço-me do amigo, companheiro de papos falados e silenciosos, de trocas de olhares, no quintal de casa, na Casa de Artes, no Zeca’s, na Casinha amarela, no Zaru, na Varanda da Madame Sanz, no antigo Quintal da Regina, onde nossa amizade começou a se estreitar como deve ser entre dois boêmios, numa mesa de bar.
Outro dia, conversando com o nosso Rei Momo alemão, o Karl, que tomou posse neste triste estranho carnaval, na sexta, 28 de fevereiro, ele me dizia que estava sem inspiração, na última hora sobre o que vestir antes de ser coroado. Com qual fantasia eu vou, Washington?
Lembrei do Julio, que não estava bem de saúde e que, provavelmente não iria se postar do lado de fora do Restaurante do Zecas com seu cigarro, o uisquinho e o olhar matreiro sobre os foliões (ele que já foi um e dos bons, mas que agora, parecia se divertir mais como voyeur da folia).
Bom, o Karl lembrou que só era Rei Momo por causa do Julio e do Zé Lavrador, que em 2011 fizeram a sugestão. Começamos a “viajar” na barca a respeito do sobrenome Marques. Karl lembrou do seu xará Karl Marx e eu lembrei do Grouxo Marx. Na hora, fiz uma quadrinha, assim: “Karl Marx, Groucho Marx, Julio Marques: personagens para pensar, gargalhar e emocionar“. Lendo agora, acho que o Julio cabia nas três definições.
Abaixo, textos da querida amiga Ana Muller e do querido Claudio Motta sobre o querido Júlio Marques que nos deixou sem combinar. Saiu à francesa, como fazia depois de encontros com os amigos
Mas esta sua saída repentina, Julio, doeu demais e vai continuar doendo. Mas, meu amigo, você veio para ficar. Paquetá é sua casa e aqui você vai morar sempre. Seu cinzeiro sempre estará nas nossas mesas. Beijos, bichinho. Sei que você gostaria que a folia continuasse, mas, pelo menos no meu caso, acabou o meu carnaval!
Ana Muller
“Nos esbarramos nas lutas de resistências, em campanhas políticas e nas lutas que ajudaram abrir as porteiras para construirmos nossa estrada a caminho do sol da liberdade.
Recebo com muita tristeza a notícia do seu encantamento.
Espero que não tenha sofrido e que seu caminhar em busca de Oxalá tenha sido de muita luz.
Deixa uma tristeza infinita em cada um de nós.
Um vazio difícil de ser preenchido.
Fica presente em nossa memória e saudades.
Gratidão por tudo.
Viva o Júlio!!!”
Cláudio Motta
Ao meu chapa Júlio Marques.
É incompreensível que não retomemos a visão, afinal, entretidos em tecnologias e matemáticas tolas, nos tornamos equilibristas cegos ou, minimamente, atuando em uma escureza abissal. Intoleráveis incoerências não nos comovem, nem o bastante para trazer fagulhas de indignação aos olhos a título de lanternas. E assim, flutuamos mansamente com uma ilusão de participação no mundo… Que nada! Somos assistência. Raros revoltados, menos ainda insurgentes.
Então, bem no Carnaval, meu indignado favorito resolveu sair do teatro. Ele que já vinha, há longa data, afirmando ter virado plateia. (Desconfio que caçoava.)
É, meu caro Júlio, essa ilha ficou bem menos interessante sem suas tiradas afiadas, gosto por música, whisky e histórias da Copacabana que valia; até a sua rabugice ocasional fará falta. Desapareceu de contar, como diria Manoel de Barros.
Fico aqui por enquanto, participando desse baile estranho; e eu, que nem sei dançar, vou lentamente descendo para o auditório, afinal, ninguém é de ferro.”
Foto feita no sábado, dia 22 de fevereiro, com o Bloco Pérola da Guanabara na Praça de São Roque e nós, no quintal da praia.