O empresário George Washington de Sousa, condenado por planejar um atentado com bomba no aeroporto internacional de Brasília em 2022, foi autorizado pela Justiça brasileira a cumprir pena em regime domiciliar.
A decisão, tomada em fevereiro de 2025, não impôs o uso de tornozeleira eletrônica, e desde então o réu tem contado com o suporte de uma rede informal de acolhimento simpática à sua trajetória bolsonarista.
Compartilhado de Diário Carioca

George Washington havia sido preso em flagrante no final de 2022 após montar e instalar um artefato explosivo em um caminhão-tanque nos arredores do aeroporto da capital federal. Às autoridades, confessou o plano e admitiu que pretendia causar pânico generalizado às vésperas da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, marcada para 1º de janeiro de 2023. No momento da prisão, foram apreendidos fuzis, pistolas, explosivos e outros materiais de guerra, além de documentos que comprovavam sua atuação em manifestações golpistas em frente ao Quartel-General do Exército.
Condenado por terrorismo doméstico, o bolsonarista agora desfruta de um processo de ressocialização acelerado que inclui moradia, emprego formal e, em breve, até viagens interestaduais. Nesta segunda-feira (2), ele deve embarcar para Belém, no Pará, em missão profissional, com autorização judicial.
Reinserção facilitada e conexões políticas veladas
Em maio de 2024, George Washington obteve progressão ao regime semiaberto, com direito a saídas temporárias. Para isso, precisava comprovar residência fixa — exigência prontamente atendida por uma mulher de 74 anos, moradora de Candangolândia, no Distrito Federal, que declarou à Justiça tê-lo conhecido apenas pelas redes sociais e por amigos em comum. Segundo informações da revista Veja, ela decidiu hospedá-lo sem jamais tê-lo visto pessoalmente ou saber detalhes de seus antecedentes criminais.
Em outubro de 2024, o condenado foi contratado como auxiliar administrativo em um laboratório médico. A empresária responsável pela vaga alegou motivação humanitária, afirmando querer “contribuir com a ressocialização de presos”. A oferta, no entanto, não foi acompanhada de maiores esclarecimentos sobre os critérios utilizados para escolher George Washington, cuja condenação por terrorismo, tentativa de homicídio e posse ilegal de armas é pública e amplamente divulgada.
Durante sua detenção, o empresário buscou abater sua pena participando de cursos de logística, direção defensiva e leitura de obras literárias — estratégias comuns entre presos em busca de progressão, mas questionadas por especialistas diante da gravidade dos crimes cometidos.
Gleisi Hoffmann denuncia articulação golpista e impunidade estrutural
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, usou neste sábado (31) sua conta na rede social X para denunciar o que classificou como “manutenção ativa de redes golpistas” no país. Ela citou o caso de George Washington como exemplo da estrutura de apoio silencioso, porém eficiente, que ainda sustenta figuras diretamente envolvidas em tentativas de ruptura institucional.
“Os golpistas continuam muito bem articulados para proteger seus agentes, inclusive os que planejaram assassinar inocentes em massa na véspera do Natal”, escreveu a ministra. “Continuam ameaçando a sociedade e a democracia e até conspirando com autoridades de um país estrangeiro para punir ministros do STF que julgam seus crimes.”
A referência de Gleisi Hoffmann ressoa com investigações em curso sobre tentativas da extrema-direita brasileira de obter apoio político e jurídico no exterior para confrontar decisões do Supremo Tribunal Federal, especialmente as que envolvem os ataques de 8 de janeiro de 2023 e seus organizadores.
Os golpistas continuam muito bem articulados para proteger seus agentes, inclusive os que planejaram assassinar inocentes em massa na véspera do Natal. Continuam ameaçando a sociedade e a democracia e até conspirando com autoridades de um país estrangeiro para punir ministros do…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) May 31, 2025
Terrorismo não é reincidência leve
O caso de George Washington de Sousa expõe as fragilidades de um sistema penal que, diante da ameaça do terrorismo de matriz ideológica, age com complacência e deixa brechas para a reincidência — política, discursiva ou operacional. A ausência de tornozeleira eletrônica, a concessão de viagens e a falta de acompanhamento sistemático por parte do Estado alimentam o risco de que indivíduos como ele voltem a atuar nos bastidores de uma articulação ainda viva, difusa e radicalizada.
Não se trata de penalismo vingativo, mas de um alerta estrutural: permitir que agentes com histórico de terrorismo sejam reintegrados sem vigilância adequada é uma ameaça direta à democracia brasileira. Ao invés de neutralizar esse tipo de ameaça, o Estado parece delegar sua contenção ao acaso — ou, pior, a redes que operam sob o manto da legalidade, mas com nítida conivência ideológica.
**O silêncio de instituições que deveriam zelar pela ordem democrática — Ministério Público Federal, Justiça Eleitoral, Forças Armadas — diante da reincidência simbólica de casos como o de George Washington, lança mais dúvidas sobre a disposição efetiva do país em enfrentar seu passado recente de tentativa de golpe com o rigor necessário.