Lambendo as feridas da derrota na Argentina

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Por Bepe Damasco, compartilhado de seu Blog

Foto: Reprodução




1) É chocante que um descerebrado como Milei vença uma eleição, qualquer que seja ela. Ainda mais para a presidência da República de um país que sempre se orgulhou do nível de politização de seu povo. Depois de todas as barbaridades que defendeu durante a campanha, sua eleição expõe mais uma vez o lado sombrio da alma humana.

2) A Argentina optou por se atirar no precipício. E vai pagar um alto preço pela aventura. Se Milei cumprir pelo menos uma pequena parte de suas promessas, já será suficiente para gerar o caos político, econômico e social.

3) Não é possível cravar se o lunático fascista vai mesmo acabar com o peso argentino, dolarizar a economia, fechar as portas do Banco Central, romper relações com o Brasil, com a China, com o Vaticano e sair do Mercosul. No entanto, poucos duvidam de sua capacidade de produzir insanidades semelhantes.

4) Sem maioria parlamentar, só resta ao governante, a exemplo do que faz Lula no Brasil, negociar o tempo todo com o Legislativo e ceder espaços. A concepção autoritária, e totalitária, que Milei tem da política e da vida permitirá esta flexibilização pragmática?

5) O governo de Alberto Fernández não poderia permitir em hipótese alguma a consolidação da inflação em estratosféricos 135% ao ano. As dificuldades do país vizinho para domar a inflação são públicas e notórias. Não é fácil o desafio de se livrar dos amarras impostas pelo FMI. Mas será que a hiperinflação foi encarada pelo governo de Fernández como um elemento central da luta da civilização contra a barbárie?

6) Um dos melhores quadros atualmente do peronismo, Sérgio Massa, por ser ministro da Economia, viu o carimbo de responsável pela hiperinflação ser colado na sua testa ao longo de toda a campanha. Ter chegado ao segundo turno na dianteira acabou sendo um proeza, que se deve às suas qualificações pessoais e ao enraizamento do peronismo.

7) Caso os índices inflacionários estivessem minimamente controlados, o espaço para o crescimento da extrema-direita estaria drasticamente reduzido e a candidatura de Milei perderia seu principal combustível. Arrisco a dizer que Massa venceria a eleição.

8) O apoio de Macri e Bullrich a Milei no segundo turno é revelador de como a direita tradicional não hesita em se aliar ao fascismo quando está em jogo a derrota de candidatos e partidos com compromissos populares.

9) Li uma postagem ainda na noite deste domingo, após a confirmação da vitória de Milei, do valoroso e competente ministro Flávio Dino, no qual ele alerta que só o progresso social e econômico, com a consequente melhoria da vida do povo, é capaz de conter a ultradireita. 

10) Concordo, mas não é só, ministro. Veja como os índices de aprovação do governo Lula são desproporcionais à quantidade de suas realizações em menos de um ano. Isso se deve à presença ativa da extrema-direita no submundo das redes e sua expertise em mentir, manipular informações e disseminar ódio e fake news. Ou a política de comunicação do governo e do PT desperta para a dura realidade de que não vivemos tempos de paz e que guerrear contra os extremistas é uma questão de sobrevivência, ou Brasil corre o risco de ser a Argentina amanhã. 

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