Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Nunca foi tão atual o filme Mephisto, adaptação de 1981 do livro de Klaus Mann, dirigido por István Szabó e estrelado por Klaus Maria Brandauer. O filme retrata um ator que vende sua consciência para o nazismo, tornando-se um ícone do hitlerismo. Passado o auge, o ator cai em desgraça junto aos nazistas, depois destes sugarem sua fama. No Brasil do golpe, são inúmeros os jornalistas, atores, músicos e detentores de outras profissões que vendem suas consciências para a zona do conforto atual do conservadorismo.
Nem preciso falar dos conservadores, reacionários, pois estes, mesmo se escondendo muitas vezes numa auto-intitulada posição de centro, nunca nos enganaram. Mas tem os lacaios do poder atual, vendidos, covardes que se escondem atrás do biombo da profissão para sujar as mãos de sangue ao lado dos que assassinaram Marielle Franco, daqueles que agrediram militantes que defendiam Lula da prisão, dos trogloditas que maceram orelhas, que cegam com balas de borracha, que torturam com as chamadas prisões temporárias, definitivas na crueldade à espera de uma delação.
No final do filme de Szabó, o personagem, já em desgraça, justifica todo o seu mercenarismo de consciência dizendo ser apenas um ator. Que não venham os traíras da causa justificarem posteriormente suas traições com “sou apenas um ator”, “sou apenas jornalista”. A lata de lixo da história os aguarda.