Por Joaquim de Carvalho, publicado em DCM –
O procurador Roberson Pozzobon, o Robito das conversas secretas e impróprias com Deltan Dallagnol, reapareceu em público hoje, com um visual diferente. Está sem barba.
Roberson Pozzobon, agora sem barba. Foto de Eduardo Matysiak
Durante coletiva na Polícia Federal, Pozzobon falou sobre a 62a. fase da Operação Lava Jato, que tem no dono do Grupo Petrópolis (cerveja Itaipava) seu peixe mais graúdo.
Mas é impossível ver o registro do evento, feito pelo fotógrafo Eduardo Matysiak, e não se lembrar do diálogo dele com Deltan Dallagnol, vazado pela Folha de S. Paulo e Intercept.
Na conversa, do final do ano passado, os dois discutem como burlar a vigilância da opinião pública e a legislação que proíbe procuradores de serem sócios-gerentes de empresas.
O diálogo deles, num grupo fechado do Telegram, é sobre a abertura de uma empresa.
”Vamos organizar congressos e eventos e lucrar, ok? É um bom jeito de aproveitar nosso networking e visibilidade”, disse Dallagnol.
As conversas evoluem até que discutem, em fevereiro deste ano, a possibilidade da empresa ser alvo de investigação.
O receio é que a empresária que hoje organiza as palestras de Dallagnol pudesse um dia ser ouvida em juízo.
“É bem possível que um dia ela (em referência à proprietária de uma empresa especializada em palestras) seja ouvida sobre isso para nos pegarem por gerenciarmos empresa”, disse.
Pozzobon respondeu: “Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que veeeenham”.
Era este o procurador que agora há pouco demonstrava indignação com atos ilícitos supostamente praticados por empresários.
Disse ele, solene:
“A dimensão, novamente, dos ilícitos praticados, cuja investigação hoje se aprofunda, causa espanto. Estamos falando de lavagens de dinheiro nacionais e transnacionais que envolveram dois grandes grupos econômicos do Brasil: a Odebrecht e o grupo Petrópolis.”
Continua com o discurso anti-corrupção afiado, o que revela o senso de oportunidade para situações que podem proporcionar grande visibilidade.
E, como lhe disse Dallagnol, visibilidade pode ser traduzida em moeda sonante.
Enquanto Pozzobon discorria sobre atos ilícitos dos empresários, era quase possível ver as palavras do chat secreto com Dallagnol girarem em torno de seu rosto agora sem barba.
A Lava Jato está completamente desmoralizada.
O ideal é que esses procuradores agora sob suspeita fossem afastados.
O Ministério Púbico Federal seguiria no seu trabalho.
Mas não representado por rostos que, em público, expressam indignação com corrupção, mas que, agora se sabe, longe dos holofotes, se comprazem com a possibilidade de ganhar dinheiro por baixo dos panos.
“Que veeeeeenham”, disse o jovem.
“Que partam”, dissemos nós.
O Brasil não precisa de moralistas sem moral.