“Lava Jato – Obscena, grotesca e falsa”, diz cientista jurídico

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Para divulgar o lançamento do filme “Polícia Federal – a Lei é para todos“, sua produção colocou em pleno calçadão da famosa e badalada Rua XV de Novembro, a Rua das Flores, em Curitiba (PR) o que seria o equivalente R$ 4 bilhões.

A quantidade de dinheiro corresponde, segundo a divulgação, aos valores já surrupiados dos cofres públicos e já recuperados pela Operação Lava Jato, classificada no filme como o maior escândalo mundial de corrupção. Junto um cartaz alertava: “Imagine o tamanho do roubo, isso é uma pequena parte”.




Na publicidade do filme, o "pacote de dinheiro" exposto na rua de Curitiba. Foto: reprodução
Na publicidade do filme, o “pacote de dinheiro” exposto na rua de Curitiba. Foto: reprodução

Na manhã desta quinta-feira (31/08), a iniciativa mereceu uma bem argumentada crítica do mestre em Ciências Jurídicas e Sociais e Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF, Jorge Normando de Campos Rodrigues. Para ele, “há tamanha identidade simbólica, entre esse gesto e a Operação, que a comparação se torna irresistível: ambas são obscenas, grotescas, e falsas”.  Em seu artigo, editado originalmente no Boletim Nascente, publicação semanal do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense, que circulou nesta quinta-feira. ele adverte:

“O teto da corrupção na Petrobras foi estimado pela empresa, em 2015, em 88 bilhões de reais. Esse montante é resultado da aplicação do percentual de propina máximo apurado, sobre todos os contratos da empresa desde 1994 (muito mais do que o escopo da Lava Jato)”.

Em seguida, comenta, para mostrar que os valores recuperados atribuídos à Lava Jato são bem inferiores aos prejuízos que a forma desastrada como a operação foi conduzida provocaram na economia nacional. Cita números da própria Federação das Indústrias de São Paulo – FIESP:

“A FIESP (a Dona do Pato e dos patos) estimou a perda do PIB decorrente da Lava Jato em 142 bilhões de reais, SOMENTE NO ANO DE 2015. Só esse valor já é muito maior do que a “roubalheira” apregoada”. (grifo do original)

Abaixo publicamos íntegra do artigo. Mas também apresentamos a parte inicial dos comentários do crítico de cinema Pablo Villaça sobre o filme. Ele assistiu ao pré-lançamento realizado em Curitiba, em um evento midiático com a presença dos juízes da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, e sua respectiva esposa, e Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio. Villaça não é o único a criticar o resultado final da produção.

Em recente crítica na Folha de S. Paulo – Filme sobre a Operação Lava Jato tropeça em clichês e exageros -, o colunista Bernardo Mello Franco também foi ácido: “o resultado é uma trama maniqueísta, sem nuances, que, em vários momentos, se assemelha a uma peça de propaganda”.

A análise técnica de Villaça começa definindo o que realmente a produção é para ele: um filme propaganda. Opinião coincidente com a de Rodrigues. Mostra ainda a tendência política do trabalho que, no seu entendimento, foi feita não para atingir a esquerda como um todo, mas especificamente o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O filme, que segundo o noticiário teve uma produção de R$ 15 milhões, mas cujos financiadores vêm sendo mantido em segredo, acabou contando com verba pública, ainda que de forma indireta, como mostramos em Filme chapa branca, com verba pública. Mas, sem dúvida, o financiamento maior partiu de empresários que se mantêm escondidos.

Há dois dias o Blog questiona a Máquina Cohn & Wolfe, empresa de comunicação que assessora o grupo empresarial Qualicorp, administrador de planos de saúde, sobre a contribuição de R$ 2 milhões que seu diretor presidente, José Seripieri Filho, teria destinado a esta produção.

Não seria a primeira vez que Júnior, forma como é tratado Seripieri Filho, contribui com a Polícia Federal. No ano passado ele ajudou a patrocinar a revista da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF).

Apesar de todas as cobranças que fizemos à assessoria de comunicação, não obtivemos nenhuma resposta. O curioso, a se confirmar tal patrocínio, é que Júnior desfruta da amizade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pelos comentários de Villaça, Lula é o principal alvo do filme.

Sem conseguirmos localizar Villaça, reproduzimos uma parte do seu comentário e indicamos os links do site que ele mantém, bem como da página do Youtube, onde, os que se interessarem pelo comentário terão acesso à sua íntegra. Vale ouvir.

Lava Jato – Obscena, grotesca e falsa

Normando Rodrigues (*)

Antonio Calloni faz o papel do "delegado Ivan", personificação do delegado Igor Romário de Paulo? (Foto:reprodução do Facebook)
Antonio Calloni faz o papel do “delegado Ivan”, personificação do delegado Igor Romário de Paulo? (Foto:reprodução do Facebook)

A propaganda-do-filme-propaganda da Lava Jato plantou pilhas de dinheiro falso, com 4 metros de altura, em plena Boca Maldita de Curitiba, simbolizando 4 bilhões de reais “recuperados”. Há tamanha identidade simbólica, entre esse gesto e a Operação, que a comparação se torna irresistível: ambas são obscenas, grotescas, e falsas.

Obscena porque exibida em excesso. Nunca antes na história desse País um juiz falou tanto à mídia sobre um processo que conduz – em flagrante violação à Lei Orgânica da Magistratura – a ponto de discursar para seus seguidores políticos, a determinar quando e como deveriam promover, ou não, manifestações políticas.

Grotesca porque não se conduzem as medidas judiciais sob o Império do Direito, mas sob o Império do Julgamento-Espetáculo, onde decisões são pautadas pela expectativa e receptividade do clamor público. Há muita literatura teórico-científica, a partir dos julgamentos-espetáculo fascistas (Alemanha do início dos 30; Espanha do imediato pós Guerra Civil) e comunistas (Moscou, 1936-39) mas os que quiserem uma compreensão rápida devem assistir a “Julgamento em Nuremberg”, de Stanley Kramer (EUA, 1961).

Falsa porque a Lava Jato apregoa a defesa da coisa pública enquanto destrói a economia do Brasil e promove o subdesenvolvimento, a miséria, e o desemprego. Duvida? Vamos aos números.

O teto da corrupção na Petrobras foi estimado pela empresa, em 2015, em 88 bilhões de reais. Esse montante é resultado da aplicação do percentual de propina máximo apurado, sobre todos os contratos da empresa desde 1994 (muito mais do que o escopo da Lava Jato). Uma conta inflada, portanto.

Ora, a FIESP (a Dona do Pato e dos patos) estimou a perda do PIB decorrente da Lava Jato em 142 bilhões de reais, SOMENTE NO ANO DE 2015. Só esse valor já é muito maior do que a “roubalheira” apregoada.

Podia ser diferente?

Na Alemanha, Daimler e Volks foram pegas numa bilionária rede de corrupção e fraude ambiental. Alguém viu algum juiz da Alemanha quebrar essas empresas?

Na Coreia do Sul, a corrupção da Samsung derrubou uma presidenta e deu em prisão do herdeiro. Alguém viu algum juiz coreano quebrar a Samsung?

Nos EUA o governo colocou 12,3 bilhões de dólares na GM, dos quais perdeu 11,2 bilhões. Contudo, foram salvos 1,5 milhões de empregos. Alguém viu algum juiz dos EUA quebrar a GM?

Já aqui, aplaude-se o juiz que quebra a Petrobras, estaleiros, o programa do submarino nuclear, e dissemina desemprego.

(*) Jorge Normando de Campos Rodrigues – Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre em Ciências Jurídicas e Sociais e Doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF, foi professor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Consultor da Central Única dos Trabalhadores – CUT, desde 1995 e da assessoria à bancada dos trabalhadores no Fórum Nacional do Trabalho, assessor da Federação Única dos Petroleiros – FUP, desde 1991.

 “Polícia Federal – a Lei é para Todos” – Comentário de Pablo Villaça (**)

A íntegra do comentário pode ser assistido no site Cinema em Cena ou em https://www.youtube.com/watch?v=5iZo7mRDYKM

(**) Pablo Villaça –  é crítico cinematográfico brasileiro. É editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil. Trabalha analisando filmes desde 1994 e colaborou em periódicos nacionais como MovieStar, Sci-Fi News, Sci-Fi Cinema, Replicante e SET. Também é professor de Linguagem e Crítica Cinematográficas.

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