Por Sérgio Rosa, ex-presidente da Previ, fundo de pensão dos trabalhadores e trabalhadoras do Banco do Brasil
Em 2014, no contexto da reação comandada pelo PSDB/Aécio Neves, iniciou-se uma perseguição contra dirigentes de Fundos de Pensão eleitos pelos participantes e indicados pelas empresas patrocinadoras estatais. Primeiramente através de uma CPI baseada em falsas denúncias, cujo relatório não trazia nenhuma conclusão consistente, e depois, já no espírito da Lava Jato, com a criação de uma Força Tarefa do MP de Brasília que passou a fazer investigações sigilosas.
Em 2016 essa força tarefa apresentou a batizada Operação Greenfield, levando à 10 Vara Federal de Brasília uma peça de acusação genérica contra dezenas de dirigentes de fundos de pensão e dirigentes de fundos de investimento e empresas que tinham participação dos fundos.
A peça era uma aberraçao jurídica, misturando casos sem conexão, diferentes entidades e empresas, com indícios baseados em matérias de jornal ou denúncias anônimas, ou simplesmente ilações dos procuradores. Sem acusações específicas ou particularizadas.
Ainda assim, conseguiram do Juiz a aprovação de medidas cautelares contra as pessoas citadas, envolvendo busca e apreensão em casas e empresas, condução coercitiva, prisões preventivas, bloqueio de bens, afastamento de funções nas entidades e empresas, recolhimento de passaportes, proibição de viagens, de entrar na sede das entidades e de se comunicarem entre si.
Depoimentos foram tomados pela Policia Federal, mas nenhum dos citados teve acesso às investigações.
Empresas e fundos de investimento foram praticamente “quebrados” com essa investigação, pois decisões, financiamentos e projetos foram inviabilizados.
Três anos depois, em 2019, o MP começou a apresentar acusações penais e cíveis contra parte das pessoas citadas originalmente.
Sem provas de fraude ou corrupção, o MP adotou a acusação genérica de “gestão temerária” contra os dirigentes dos fundos de pensão.
Neste período, a narrativa predominante seguiu a direção dada pelo Ministério Público, imputando aos dirigentes dos fundos a marca de corruptos e incompetentes, que teriam forjado investimentos que deram prejuízos e geraram rombos nas entidades.
Houve pouco espaço para a defesa e a explicação dos fatos, e as restrições jurídicas e públicas permaneceram afetando a vida e a reputação dessas pessoas.
Depois de muito tempo, em 2024, começaram a ser obtidas decisões na Justiça inocentando diversos desses dirigentes.
Neste início de 2025, o Juiz Titular da 10 Vara Federal proferiu sentença em 3 casos, absolvendo sumariamente os dirigentes acusados, considerando as acusações do MP “ineptas”, sem provas e sem caracterização das responsabilidades dos envolvidos.
No meu caso, e para a maioria das pessoas, passaram-se 9 anos desde a deflagração da famigerada Operação Greenfield e todas as consequências jurídicas, financeiras, profissionais e pessoais que ela acarretou.
Uma operação de lawfare, de perseguição, de intenção política de fragilizar fundos geridos pelos próprios trabalhadores e de combater politicamente aqueles que se organizam ao lado dos trabalhadores.
Nas palavras de um dos dirigentes afetados, após a Operação Greenfield houve um “apagão das canetas”. Dirigentes e funcionários deixaram de tomar decisões relevantes que podiam ter salvado negócios e empresas, pois todas os atos de gestão foram “criminalizados”.
Um enorme prejuízo para a sociedade, para os trabalhadores e pessoas acusadas levianamente.
Estou aliviado com a absolvição, mas ainda absolutamente triste com o fato de corporações e agentes públicos usarem seu poder mesquinho para fazer carreira e combater politicamente quem não gostam.