Leandro Fortes, sobre proposta da jornalista Hidelgard Angel em cobrar a entrada nas praias do Rio para, no pensamento dela, acabar com os arrastões.
CABEÇA ZONA SUL
Antes, preciso dizer que admiro muito Hidelgard Angel.
É uma jornalista correta e corajosa que, tenho certeza, ao propor essa política segregacionista, pautou-se pelas circunstâncias terríveis dessa lamentável rotina de arrastões nas praias do Rio.
Ocorre que esse Rio, a Cidade Maravilhosa, esse primor de beleza natural que é impossível não admirar, é uma farsa a céu aberto.
Em volta do cartão postal da Zona Sul, essa miríade de luz e corpos dourados à beira do Atlântico, gravitam enormes bolsões de miséria, pobreza e violência alimentados pelo desespero e pelas regras do crime e da exclusão.
A solução para os arrastões não está, obviamente, na transformação das praias da Zona Sul em áreas particulares, mas na organização do espaço público e numa ação policial coordenada e efetiva.
Restringir a circulação de ônibus é outra bobagem. Não se pode acabar com um direito constitucional, o de ir e vir, para agradar uma classe social em detrimento da outra.
As soluções para o Rio não são fáceis e, certamente, não vão acontecer do dia para a noite.
O que Hidelgard teve foi um surto provinciano muito típico dos moradores da zona sul carioca, que se acham personagens privilegiadas dessa fantasia de cartão postal.
Não são.
São parte do mesmo drama, do mesmo problema, e terão que fazer parte, também, da solução.