Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade, sócios do Melhor Atacadista em Brasília, já prestaram depoimentos e caíram em contradição na CPI dos Atos Golpistas da Câmara Legislativa do DF
Por Raphael Sanz, compartilhado de Fórum
A 25ª fase da Operação Lesa Pátria, deflagrada na manhã desta quinta-feira (29), tem entre os seus alvos dois empresários atacadistas de Brasília. Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade são acusados de financiar o acampamento golpista montado diante do Quartel-General do Exército na capital federal. No início da manhã a PF confirmou que havia um mandado de prisão preventiva a ser cumprido em São Paulo e dois no Distrito Federal. Mais tarde, a dupla foi presa.
A operação foi deflagrada há mais de um ano com o objetivo de identificar pessoas que financiaram e fomentaram os atos ocorridos em 8 de janeiro de 2023. Ao todo, foram cumpridos nesta manhã 34 mandados judiciais, sendo 24 mandados de busca e apreensão, três mandados de prisão preventiva e sete de monitoramento eletrônico, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal. As ações ocorrem no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.
Também foi determinada a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados. Apura-se que a quantia dos danos causados ao patrimônio público possa chegar à cifra de R$ 40 milhões. E os investigados, caso confirmados os seus caráteres de financiadores da depredação, deverão ser intimados a arcar com parte dos prejuízos.
Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. As investigações continuam em curso, e a Operação Lesa Pátria é permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais cumpridos e pessoas capturadas.
Joveci Xavier de Andrade
Em abril de 2023, Joveci foi convocado à CPI dos Atos Golpistas, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, justamente para dar explicações sobre as acusações. Além disso, também é acusado de fornecer transporte para que os bolsonaristas se dirigissem a Brasília para realizar os ataques.
À época ele negou ter participado da depredação nas sedes dos três poderes mas entrou em contradição ao ser confrontado com duas fotos em que aparece ao lado dos bolsonaristas e voltou atrás na declaração. Numa das fotos ele aparece segurando um cartaz contra o Supremo Tribunal Federal na Esplanada do Ministérios em pleno 8 de janeiro. Em outra aparece confraternizando com os radicais bolsonaristas no próprio acampamento.
“Eu não entendi assim o ‘participar’. Ir lá, no QG eu fui muitas vezes. Eu entendi o participar de forma diferentes”, tentou se explicar à CPI. Sobre sua participação nos atos de 8 de janeiro, ele diz que chegou à Esplanada dos Ministérios por volta das 17h e que não invadiu nenhum prédio.
Também negou as acusações de ter fornecido alimentação, banheiros químicos e barracas para o acampamento, e a contratação de um trio elétrico para acompanhar as manifestações.
O suspeito é um dos donos da rede Melhor Atacadista, que conta com 8 unidades no Distrito Federal e entorno. A empresa diz, em seu site, que oferece preços baixos e grande variedade de produtos. Ele também é sócio de outras três empresas: Garra Food Solutions, Canal Distribuição e Marcas Premium. Joveci nega que as empresas tenham sido usadas no financiamento de atividades golpistas.
Adauto Lucio de Mesquita
A partir de vídeos que o mostram no acampamento bolsonarista de Brasília, Adauto Lucio de Mesquita passou a ser investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal e, em maio do ano passado, também prestou seu depoimento à CPI dos Atos Golpistas da Câmara Legislativa do DF. Ele é suspeito de financiar e coordenar a arrecadação de doações ao movimento bolsonarista.
Em 2 de janeiro ele esteve no acampamento e postou um vídeo do local. “É uma multidão, tem que ver para crer. É gente demais. Tem até lá no Eixo Monumental e toda hora chegando gente. É gente demais, viu. Vem pra cá. Não perde a vez, não, vem participar”, disse o empresário.
Num segundo vídeo ele mostrou o trio elétrico usado nas manifestações: “É o maior do Brasil. Uma carreta. É para barulhar muito”.
Recaem sobre Adauto as suspeitas de transferir dinheiro para contas bancárias ligadas aos golpistas, e o pagamento de transporte dos militantes até a Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro. À época da convocação para a CPI seus advogados alegaram que o empresário jamais financiou qualquer movimento antidemocrático.
À CPI ele admitiu ter feito “três pequenas doações”, de R$ 100, R$ 110 e R$ 1 mil, aos bolsonaristas acampados em Brasília. Ainda detalhou que a doação de 110 reais foi feita a uma idosa que estava desesperada com o desmonte do acampamento e pedia dinheiro pois seu aluguel venceria naquela data.
Adauto também admitiu ter doado R$ 10 mil para a campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 mas negou ter sido um dos coordenadores do acampamento. Ao lado de Joveci, ele também é um dos donos do Melhor Atacadista. Mas não é só. Também é proprietário de 21 propriedades rurais nas cidades de Planaltina, Niquelândia e Luziânia, todas em Goiás.
“Se eu sonhasse, imaginasse que fosse chegar nesse ponto dessa exposição e sofrimento, eu não teria ido e participado. Me arrependo, sim”, declarou à CPI em maio de 2023.