Não tem água, não tem vida (Pedro Munhoz)
Não tem mundo, não tem gente,
Não tem nada, acredite,
Tudo seco, não resiste,
Racha o solo, dói à mente.
Num deserto inclemente,
Sem sombra e sem guarida,
É caravana perdida,
Tempestade de areia.
Que sufoca e incendeia,
Não tem água, não tem vida.
Se a água na vertente,
Feito uma filha que nasce,
Lá na serra imaginasse,
Tão nascida, tão nascente.
Força da água corrente,
Dá à planta umedecida,
Gerando tanta comida,
A semente, a vinha e o pão.
Pro verde brotar do chão,
Não tem água, não tem vida.
Confesso tá complicado,
A disputa do planeta,
Ai de quem se intrometa,
Nesses assuntos tratados.
Contratos sendo firmados,
Exploração sem medida,
Água virando bebida,
Em anúncios comerciais.
Destruindo os mananciais,
Não tem água, não tem vida.
São as indústrias pesadas,
São as regras do mercado,
Tudo em série organizado,
A produção foi pensada.
Muitas horas trabalhadas,
A meta sendo atingida,
Caso não seja cumprida,
Reclama forte o patrão.
Não entende a situação,
Não tem água, não tem vida.
A cidade estagnada,
Violência nos assalta,
Falta tudo, água falta,
População é jogada.
Rompe o cano na calçada,
Brincadeira divertida,
Burguesia enfurecida,
Um desaforo tamanho.
A criançada no banho,
Não tem água, não tem vida.
Lá na roça, manhãzinha,
Desperta o dia bem cedo,
Céu e nuvem nos dizendo:
vai ter chuva na tardinha.
Aquela chuva mansinha,
Deixando a terra florida,
Respirando agradecida,
Sabe a importância que tem.
Se tem água, tudo bem,
Não tem água, não tem vida.