Por Celso Sabadin, cineasta, critico de cinema –
Entendo, compreendo perfeitamente, principalmente pelo prisma do marketing e da divulgação, todo este agito em torno das mais diversas premiações do mundo do cinema.
Mas meu lado cinéfilo não consegue curtir este clima. Não embarco – no mundo das artes em geral e do cinema em particular – neste pensamento binário do “vencer” ou “não vencer”. Não vejo como um único ator ou atriz no universo das centenas de filmes produzidos pelo mundo no período de um ano possa ser considerado “melhor” que todos os outros, que uma direção possa ser considerada “melhor” que centenas de outras, idem para uma direção de fotografia, montagem, etc etc…
Melhor, pior, perder, ganhar são conceitos que cabem perfeitamente bem no mundo dos esportes competitivos. Mas no cinema, pra mim, não funciona.
Cada filme é uma obra de arte particular, que vai falar de maneira mas próxima ou mais distante a grupos de sensibilidades pessoais particulares e em tempos diferentes e particulares. Por isso é arte. Não vejo como quantificar arte. Nunca me imaginei ver um filme, sei lá, do Fellini, e ficar pensando: “será que ele foi melhor que o Pasolini? Ou Rosselini?”.
Pior: como tudo o que vem acontecendo recentemente, a tendência agora é as pessoas se estapearem em redes sociais defendendo ou atacando determinado filme que deveria ganhar ou que não deveria ganhar. Perde a discussão artística; ganha a polarização abestada.
Validar ou não uma obra de arte pelos prêmios que ela ganhou ou deixou de ganhar (principalmente quando conhecemos bem os mecanismos internos de tais prêmios) não faz muito sentido.
Prêmios? Festas? Tapete vermelho? Pode até ser. O departamento de marketing gosta. Mas levar tudo isso a sério é tão bobo que merece até… um Oscar.
