Do RFI, publicado em Jornal GGN –
O jornal Libération desta quinta-feira (8), publica duas análises sobre a eleição de Jair Bolsonaro.
O jornal Libération desta quinta-feira (8) publica dois artigos que tratam da eleição de Jair Bolsonaro. O diário vem mobilizando diariamente especialistas em América Latina para analisar as ascensão da extrema direita à mais alta cúpula do poder no Brasil.
Para Gruzinski, as eleições no Brasil colocam em confronto o historiador e a memória das nações. Segundo ele, quando se observa o entusiasmo com o qual parte dos eleitores celebram a vitória de Bolsonaro, é impossível desconsiderar que a maioria destas pessoas “não faz a menor ideia sobre o que foram os vinte anos de ditadura militar no Brasil“.
Diferentemente da Argentina ou do Chile, com a Lei da Anistia, em 1979, o Brasil escolheu a “via do silêncio”, escreve o pesquisador no Libération. A propaganda do regime militar, que construiu uma ideia de ordem e estabilidade do país, somada à passagem do tempo, à desinformação e à ausência de uma educação crítica nas escolas “estimula a amnésia da população”, considera.
O problema, segundo o historiador, se resolve com educação e com reflexão sobre “cenários de ontem que nos ameaçam hoje”, a exemplo da ascensão da extrema direita em todo o mundo atualmente. No entanto, salienta, “a informação não deve apenas alimentar a comparação e a análise crítica. Ela pode também ensinar a nos proteger para melhor resistir”, escreve Gruzinski.
“Tudo é culpa da esquerda”, diz outra coluna no Libération, assinada pela filósofa Sandra Laugier e o sociólogo Albert Ogien. Segundo eles, a chegada ao poder de populistas como Trump ou Bolsonaro convenceu alguns pensadores que essas vitórias se devem aos avanços da democracia, à escolha do povo e por culpa dos progressistas. “Essas análises são falsas, capitulacionistas e perversas”, diz o artigo.
Para os autores do texto, a vitória de Bolsonaro “é uma terrível demonstração do acolhimento que um corpo eleitoral, dominado por velhas figuras, dá a candidatos que, qualquer que sejam suas verdadeiras experiências, dão a impressão de não pertencer a grupo tradicionais e prometem fazer outro tipo de política”.
O artigo diz que o combate às forças que promovem o autoritarismo e o fascismo é principalmente político, em um momento em que esses novos poderes já agem como se a democracia tivesse sido apenas “um parênteses incongruente” na História. Aqueles que sugerem que o combate por esses direitos causou essa reação autoritária (…) se juntam às tropas dos novos inimigos da democracia”, conclui o artigo publicado no jornal Libération.