Por Cláudio Guedes, Facebook –
Fui hoje ao Shopping Salvador, na capital baiana, para um compromisso de trabalho. Cheguei cedo e fui às livrarias Cultura e Saraiva. Uma desolação.
Decadência.
Típico ar de fim de festa. Lojas vazias, prateleiras idem. A livraria Cultura, em particular, um espaço grandioso, projeto caríssimo, com mezaninos recortados e escadaria suntuosa de madeira maciça.
Conheci a livraria Cultura no início dos anos 70, poucos anos após a sua abertura, na loja histórica do Conjunto Nacional (Av. Paulista x R. Augusta). Em 1978 me tornei cliente da livraria. E o fui por 40 anos.
Em 2013, quando fui conhecer a filial instalada no Shopping Iguatemi de SP, quase não acreditei no que estava vendo: uma sede suntuosa, um luxo absurdo. Disse para mim mesmo, com meu olhar de empresário: é impossível ter retorno em um empreendimento deste vendendo livros e discos. A conta não poderia fechar.
Delírio dos donos.
Tiveram acesso a recursos vultuosos do BNDES (de 2011 a 2013 pegaram R$ 60 milhões para expansão da rede). Surfaram nas políticas distributivistas do PT, que não só aumentaram a renda da classe média baixa – e esta teve acesso a livros -, como também pela expansão do ensino superior, que multiplicou a clientela.
Apesar disso, os proprietários da Cultura sempre foram críticos ácidos das políticas e das lideranças petistas e forte apoiadores dos tucanos paulistas. Como, aliás, boa parte da classe dominante brasileira. Elite que encheu “as burras” de dinheiro na década dourada da administração petista e literalmente cuspiu no prato que comeu.
O acionista controlador, Pedro Herz, que conheci rapidamente há muitos anos (nos anos 70), apresentado por D. Gerda Brentani, avó de Monique Deheinzelin, nunca me pareceu alguém simpático. Era um gestor eficiente de uma livraria bem posicionada. O sucesso da boa livraria, no simpático Conjunto Nacional, subiu à cabeça da família, particularmente da terceira geração, os filhos de Pedro Herz, que conduziram a expansão megalomaníaca (em contradição com o que víamos no resto do mundo, onde há mais de uma década as grandes livrarias vinham fechando) da rede, abrindo, em pouco tempo mais de 12 novas lojas.
A crise política de 2014, que amplificou a crise econômica, reduzindo o poder de compra da classe média, a difusão de informações e conhecimento pela mídia não impressa, os erros nas políticas de investimentos (projetos caríssimos em grandes shoppings), levaram à debacle tanto da Saraiva como da Cultura. Nesta última, acrescente-se, contou também o distanciamento de parte do público que sempre lhe foi fiel, um público de esquerda e das universidades.
Tempestade perfeita. Estão quebradas. Não creio que se recuperem.
Mas não creio que o livro físico vá acabar. Nem as livrarias.
Acho que livrarias pequenas, elegantes, mas sem luxo, conduzidas por livreiros que amam livros e não dinheiro, vão sobreviver. E bem.
O livro é um companheiro gostoso.