Livro: “Quem produz o trabalhador?”

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À luz da Teoria da Reprodução Social, obra da Editora Elefante reúne artigos para compreender a classe trabalhadora dos dias de hoje em toda a sua pluralidade e contextos. Sorteamos dois exemplares entre quem apoia nosso jornalismo

Por Raíssa Araújo Pacheco, compartilhado de Outras Palavras




Fonte: Casa Laudelina de Campos Melo @casalaudelinamelo

O dia 28 de setembro foi marcado por manifestações em pelo menos 13 estados brasileiros. Em uníssono, milhares de mulheres em todo o Brasil se manifestaram pelo direito “justo, sagrado e necessário” de tomar suas próprias decisões acerca de seus próprios corpos.

A manifestação fez parte da agenda de lutas do dia 28 de setembro: Dia Latinoamericano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto, e se fortalece no contexto da retomada da discussão sobre o tema no Supremo Tribunal Federal.

Infelizmente, os grandes veículos da mídia comercial – muitas vezes agentes da perpetuação histórica das desigualdades – não emitiram uma palavra sequer sobre essas manifestações. Coube a mídia independente e comprometida com a mudança e com o futuro, ecoar essas vozes.

No mesmo sentido de fazer ressoar essas vozes, Tithi Bhattacharya organizou a obra Teoria da reprodução social: Remapear a classe, recentralizar a opressão. Traduzida e publicada esse ano pela Editora Elefante.

A obra busca assentar a Teoria da Reprodução Social (TRS) no campo analítico, superando as dificuldades históricas da esquerda marxista em lidar com as questões de gênero, raça e sexualidade. Tal busca passa por compreender como essas diferentes relações sociais estruturam a nossa realidade material. Tudo isso sem deixar de ter suas bases fortemente fincadas na teoria de Marx, empreendendo um resgate da categoria “trabalho”.

Outras Palavras e Editora Elefante irão sortear 2 exemplares de Teoria da reprodução social: Remapear a classe, recentralizar a opressão, com organização de Tithi Bhattacharya, entre quem apoia nosso jornalismo de profundidade e de perspectiva pós-capitalista. O sorteio estará aberto para inscrições até a segunda-feira do dia 9/11, às 14h. Os membros da rede Outros Quinhentos receberão o formulário de participação via e-mail no boletim enviado para quem contribui. Cadastre-se em nosso Apoia.se para ter acesso!


“[…] se o trabalho dos trabalhadores produz toda a riqueza da sociedade, então quem produz o trabalhador?”


Nesse sentido, o trabalho humano está no centro da criação ou reprodução da sociedade como um todo. Tendo isso em vista – e sem tirar as lentes do marxismo – é preciso compreender, em suas diversas dimensões, a classe que trabalha e produz tais riquezas sociais: a classe trabalhadora. Sendo assim, é necessário levar em consideração essa classe é generificada, racializada, plural e territorial.

Lançada originalmente em 2017, a edição conta com 10 artigos que encaram o desafio de explicar o que é a TRS e “que exploram as implicações estratégicas e políticas da teorização da reprodução social”.

Infância, sexualidade, pensões, migração, serviço doméstico remunerado e a Greve Internacional de Mulheres do dia 8 de março de 2017 são assuntos centrais nos escritos que compõem a coletânea.

Lise Vogel, uma das fundadora da TRS, socióloga, feminista, que, na década de 1960, atuou como ativista pelos direitos humanos nos EUA, abre o prefácio do livro explicando que a TRS parte de um “interesse ressurgente da década passada em desenvolver um entendimento coerente marxista-feminista da vida cotidiana no capitalismo”.

Além disso, é também um esforço de compreensão que foge das chamadas “teorias dualistas” que, por conta de uma compreensão limitada da análise marxista, separam produção de mercadorias e reprodução da força de trabalho. Tal esforço tem o intuito de desenvolver uma abordagem que pense produção e reprodução da força de trabalho através de uma perspectiva unitária.

Na obra, também fica evidente que é necessário abandonar a ideia de que as opressões “são comparáveis ou iguais em peso causal”.

Outro ponto levantado é quanto a adoção de uma TRS (marxista) que não descarte os pontos fortes do pensamento interseccional (não-marxista), “sobretudo sua capacidade de desenvolver relatos descritivos e históricos diferenciados de várias categorias de ‘diferença social’”.

Por fim – mas voltando ao começo –, é preciso não esquecer que a legalização do aborto é fulcral não só para a TRS, mas para reparar anos de opressão, desigualdades e retirada de direitos. Oito países da América Latina já descriminalizaram o aborto, mas quando a “onda verde” irá finalmente banhar o Brasil?

No entanto, vale ressaltar que a pauta precisa caminhar não só para a descriminalização, como também para que o aborto seja assegurado pelo Estado, ou seja, que sejam garantidas as condições para que o procedimento possa ser realizado com segurança, independentemente de classe.

Manifestação pela descriminalização do aborto em São Paulo, no dia 28 de setembro. Forte: Jornal A Verdade

Ô abre alas!

Ô abre alas que as mulheres vão

passar/com essa marcha muita coisa

vai mudar/nosso lugar não é no fogo

ou no fogão/a nossa chama é o fogo

da revolução!

Fonte: Marcha Mundial das Mulheres


Sobre a organizadora

Tithi Bhattacharya é professora de história sul-asiática e diretora de estudos globais na Universidade Purdue, nos Estados Unidos. Ativista de longa data por justiça social e pelos direitos do povo palestino, Bhattacharya escreve principalmente sobre teoria marxista, gênero e islamofobia. Com Nancy Fraser e Cinzia Arruzza, escreveu Feminismo para os 99%: um manifesto (Boitempo, 2019).

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